FALHÁMOS!

 

Hoje falhámos!

Hoje, dia 15 de março, os nossos alunos, os nossos jovens precisaram de nós e nós, com as nossas preocupações triviais, absorvidos no nosso mundo individual, nem nos apercebemos… alheámo-nos e ignorámos o seu despertar climático!

Hoje aconteceu algo inusitado e inédito nas nossas escolas, nas nossas cidades: os nossos jovens fizeram greve para marcharem unidos contra o curso imparável das alterações climáticas, exigindo medidas sérias e concretas para mitigar esta calamidade mundial.

Perdemos a oportunidade de os incentivar nesta luta que, afinal, é pelo futuro de todos. Apesar de ter sido uma greve amadurecida ao longo de várias semanas, de ter sido “postada” nas redes sociais, de ter ignorado fronteiras e nacionalismos vazios, não dinamizámos qualquer atividade pedagógico-didática nas nossas escolas, não incentivámos os nossos alunos a participar ativamente neste movimento cívico. Assobiámos para o lado, desvalorizámos a importância do assunto, não acreditámos neles, na seriedade da sua luta, desmarcámo-nos com pensamentos e afirmações ao gosto dos “velhos do Restelo”: “eles não querem é ter aulas”, “eles querem é passear”, “eles faltam, mas ficam a dormir”. 

Quando precisamos dos nossos alunos para concretizarmos as mil e uma atividades que, histericamente, promovemos na escola, quando lhes pedimos para cantar, ler, dançar, jogar, representar, tocar, pintar, construir, cozinhar, quando lhes pedimos que carreguem, que arrumem e que limpem, eles correspondem, participam, empenham-se e enchem de alegria e de poesia os átrios, os campos de jogos, os auditórios e as salas, contagiando-nos e, quantas vezes, afagando os nossos egos inseguros e acomodados.

Quantas vezes acusamos os nossos alunos de serem passivos, de viverem acomodados, de não agirem, de não terem objetivos, de não se preocuparem com o futuro, de não lutarem por causas sociais, políticas ou ambientais? Afinal, não é essa a lição que temos tentado transmitir aos nossos jovens? Não queremos que tenham espírito crítico? Não ensinamos a cidadania?

Hoje falhámos, porque não estivemos ao lado deles, não os incentivámos a participar, não defendemos aqueles que, apesar de querem participar, não puderam faltar às aulas ou porque não tiveram coragem ou porque não estavam devidamente esclarecidos ou ainda porque os pais ainda não conseguiram ultrapassar a conceção redutora da escola, confinada às quatro paredes da sala de aula.

Hoje, dia 15 de março, os nossos alunos, os nossos jovens precisaram de nós e nós, como numa sexta-feira igual a todas as outras, agimos rotineiramente, entrámos na sala de aula sem nos apercebermos de que os alunos ausentes estavam a fazer História, estavam a lutar pelo futuro de todos nós!

Clara Faria