Esta frase, supostamente proferida pelo general e cônsul romano Júlio César, em 47 a.C., parece descrever na perfeição o nosso trabalho em Roma.
Roma é uma cidade que guarda muitos segredos, um deles tornou-se atração peculiar. Não é monumento, cúpula, ruína, estátua ou terraço, é um buraco numa fechadura (Il Buco della Serratura). Um dos segredos mais bem guardados de Roma encontra-se no bairro Aventino e faz parte do portão da Villa del Priorato. Não se encontra ninguém do outro lado, “apenas” a cúpula da Basílica de São Pedro, a mais conhecida de Roma.
Fomos “espreitar” o sistema educativo italiano. Durante cinco dias (de 2 a 6 de outubro), das oito da manhã às duas da tarde, duas professoras, um assistente operacional e um assistente técnico, do Agrupamento de Escolas de Canelas, deslocaram-se ao Istituto Sinopoli Ferrini, em Roma, para observar aulas e procedimentos administrativos e de manutenção dessa escola italiana.
Fomos e vimos semelhanças e diferenças com a nossa realidade!
É uma escola do Ensino Básico (correspondente, no nosso sistema educativo, ao 2.º e ao 3.º ciclo), com um número de alunos muito aproximado ao da nossa escola, com vivências e formas de estar que lembram as nossas, e com uma estrutura organizativa que também se mantém a funcionar.
As diferenças? Por onde começar…
Vimos uma escola que «devolve» os alunos às famílias às 14h10. É verdade! A casa e a escola mantêm uma espécie de responsabilidade partilhada nesse compromisso de levar os alunos a aprender.
Tratando-se do ensino básico, os professores têm autonomia para decidir quais os conteúdos e aprendizagens mais relevantes para os seus alunos. Daí que, para o mesmo nível de ensino e para a mesma disciplina, dois professores possam selecionar conteúdos muito diferentes. Manual escolar? Uns adotam, outros não! Porém, essa liberdade dissipa-se quando as disciplinas são o italiano (língua materna) e a matemática. Aí volta a falar-se em uniformização de pedagogias, em rigor e em avaliação externa. Já nas restantes, os alunos são avaliados através de uma apresentação oral sobre um tema à sua escolha, abordado durante o ano letivo.
O mesmo professor leciona várias disciplinas, por exemplo, o professor de matemática também ensina ciências naturais e ciências físico-químicas. Uns apostam mais em aulas teóricas, com utilização de um manual escolar como referência, outros optam por uma abordagem mais experimental. No fundo, a formação básica é generalista, os alunos ficam com uma ideia sobre todos os assuntos, mas só aprofundam conhecimentos a partir do momento em que ingressam no ensino secundário e, mais tarde, no ensino superior.
As condições físicas da escola são claramente limitadas. Por exemplo, não existem laboratórios. Quanto a intervalos, um de dez minutos, durante o qual os alunos comem, dentro da sala de aula, os lanches preparados pelas famílias. Os espaços exteriores são quase inexistentes, por isso, os alunos permanecem seis horas dentro da mesma sala. Cada turma tem a sua sala fixa, num determinado andar, para evitar subir e descer escadas. Tudo é pensado em prol da segurança – os professores e a escola são responsabilizados por qualquer acidente que ocorra com um aluno com menos de 14 anos. Não há seguro escolar!
Nas salas de aulas, somos sempre recebidos por alunos sorridentes, que se levantam espontaneamente para nos desejar “Buon giorno”. Os professores são importantes e respeitados pela função que desempenham na sociedade, lançam as sementes que os alunos e respetivas famílias decidem, ou não, cultivar.
A formação básica inclui, para além das disciplinas tradicionais, outras menos comuns, como teatro, música e cultura das artes.
Quando chegam ao ensino secundário, é suposto os alunos já terem muito bem definido o seu percurso formativo futuro. A partir daí, para os que pretendem frequentar uma universidade, é preciso apostar fortemente na sua formação específica e numa avaliação com exames nacionais, rigorosos e que abrangem várias áreas do saber. Neste contexto educativo, os cursos profissionais não são de todo valorizados.
A figura do diretor de turma não existe. Os encarregados de educação têm um dia/hora por semana para tratar de assuntos dos seus educandos. Dentro do espaço da escola não há lugar para imprevistos ou quebra de rotinas.
Nos serviços administrativos, todo o trabalho é dividido por setores: dois funcionários dedicam-se à área dos alunos; dois, aos professores e funcionários e três, à contabilidade. Se algum destes profissionais adoecer, o seu colega terá que fazer o trabalho dos dois. Se os dois adoecerem, provavelmente o serviço acumula, mas não é habitual acontecer.
Assistentes operacionais? São sete e quase não nos apercebemos da sua presença. Em cada um dos três andares da escola, existe um, que está responsável por esse espaço (um corredor) e faz um pouco de tudo. Na escola, vive permanentemente uma família que tem a seu cargo a vigilância noturna e a limpeza dos espaços exteriores ao edifício escolar.
Ah! A escola não tem bar (nem para professores, nem para alunos), não tem cantina e as máquinas de venda automática estão restritas aos professores e funcionários.
Fomos, vimos e… viemos mais informados!
Apesar de uma identidade europeia que nos aproxima, somos pertença de comunidades muito particulares, com realidades e culturas que nos distinguem. Aquela escola é melhor? É pior? É simplesmente diferente!
Fomos, vimos e trouxemos na bagagem outras formas de fazer escola, que poderemos aproveitar ou não, mas que nos mostraram (mais uma vez) que não há apenas um caminho pedagógico!
Em Portugal, muito do que fazemos em meio escolar não é decisão nossa, mas há outro tanto que é da nossa responsabilidade e que pode, a todo o momento, ser repensado e melhorado.
Viver estas experiências é como lavar os olhos. Quando os reabrimos, vemos com mais clareza a nossa realidade (nos seus pontos fortes e fracos), dispomo-nos à mudança (se a mudança fizer sentido) ou damos continuidade às nossas ações (por percebermos que já estamos no caminho certo).
É também, assim, que vamos paulatinamente vencendo aquela tendência para pensar que só há uma forma de fazer e de que não temos margem para melhorar! Certo é que há outras escolas, que podem nem ser as ideais, mas que, pela experiência partilhada, nos ajudam a ver com mais clareza e a crescer em qualidade!
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