O impacto da Agropecuária
A industrialização da agricultura começou quando se deu a Revolução Verde, que consistiu na modernização da agricultura numa escala global.
Esta revolução trouxe vantagens ao nível do aumento da produção, mas também uma subida na quantidade de GEE libertados para a atmosfera. A industrialização resultou num aumento do consumo de combustíveis fósseis nas explorações agrícolas, mas também permitiu aumentar a área de terra utilizada contribuindo, assim, para a alteração da composição atmosférica através das emissões de dióxido de carbono e outros gases de efeito estufa (metano).
Nesta atividade, os GEE’s são emitidos por diferentes mecanismos:
O aumento da mecanização implicou o uso de combustíveis fósseis, passando a ser emitidos volumes elevados de GEE, pela combustão nos motores.
Os solos são o maior reservatório terrestre de CO2. Albergam cerca de 2500 biliões de toneladas de carbono sob a forma de matéria orgânica (FAO,2015). Arar o solo pode libertar até 45 toneladas de carbono (166t de CO2) por hectare para a atmosfera.
Na Cop21 de 2015, na França, foi apresentada a iniciativa 4 per 1000 (Home – 4 per 1000 (4p1000.org)). O seu objetivo é aumentar o armazenamento de carbono em solos agrícolas em 0,4% a cada ano para ajudar a mitigar as mudanças climáticas e aumentar a segurança alimentar.
Para tal acontecer, diferentes setores da sociedade precisarão estimular e coordenar uma melhor comunicação entre cientistas, empresas públicas e privadas e o público, reconhecendo os solos como capital natural que pode contribuir significativamente para as economias nacionais e o bem-estar humano.
Os três maiores produtores mundiais de alimentos (China, EUA e Índia) não assinaram o acordo.
Os animais libertam elevadas quantidades de metano, um forte GEE, decorrente do seu processo digestivo. A enorme quantidade de gado existente contribui, assim, para uma fatia muito importante das alterações climáticas.
Além disso, 1 hectare de floresta capta cerca de 500 toneladas de CO2 por ano (este valor depende da região). São destruídos, por segundo, 1,08 hectares de floresta para a criação animal.
Neste gráfico é possível verificar a massa de GEE’s libertada na produção de cada kg de alimento, bem como a parte correspondente a cada setor da cadeia de produção.
É fácil notar a diferença entre a produção animal e a vegetal. As emissões desta última é 10 a 50 vezes inferior à da criação animal.
Também se nota que o principal peso nas emissões é a própria criação do gado e as áreas de terra necessárias para o efeito.
Nos gráficos seguintes podemos ver uma análise semelhante, sob três perspetivas: Massa de GEE’s libertada por cada 1000 kcal de alimento, por cada 100g de proteína ou por cada kg de alimento:
É curioso notar as emissões elevadas na produção de café e de chocolate negro. Note-se, no entanto, que não usamos o café pelo seu valor energético nem o chocolate como principal fornecedor de proteína.
O metano com origem na pecuária está na origem de cerca de 5,2% das emissões de gases com efeito de estufa em Portugal (dados de 2017, sem contar com os incêndios florestais), com destaque para as vacas que têm por destino o consumo de carne e que representam 3,2%.
Os números da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) consultados pela TSF também mostram que de 2015 para 2017 os resíduos (lixeiras e aterros) deixaram de ser a maior fonte de metano em Portugal, numa liderança que passou a estar do lado da agricultura – de 175 para 183 mil toneladas por ano. Ou seja, perto de 42,6% do metano emitido por Portugal vem da agricultura.
As emissões de metano com origem no gado criado para consumo da sua carne aumentaram 48% em Portugal entre 1990 e 2017.
A emissão de carbono pelo solo
A quantidade de carbono que os solos absorvem e durante quanto tempo o conseguem conservar varia com a localização e depende da forma como a terra é gerida. Como praticamente metade da terra que consegue suportar vida foi convertida à agropecuária, os solos perderam 50 a 70% do carbono que antes retinham. Isto contribuiu para cerca de um quarto das emissões antropogénicas de GEE’s.
…que perturbam o solo – como a aragem, plantação de monoculturas, remoção dos resíduos vegetais, excessivo uso de fertilizantes e pesticidas e pastoreio excessivo – expõem o carbono do solo ao oxigénio, permitindo que ocorram reações químicas que libertam o CO2 para a atmosfera.
Os solos da Terra contêm cerca de 2500 Gigatoneladas de carbono – mais de 3 vezes a quntidade de carbono na atmosfera e 4 vezes a quantidade armazenada em todas as plantas e animais vivos.
Com melhor gestão das práticas agrícolas, é possível fazer com que os solos retenham muito mais carbono.
A utilização de procedimentos diferentes, que protejam o carbono armazenado na terra e favoreçam os mecanismos que o armazenam podem ajudar a diminuir, em muito, a emissão de GEE’s para a atmosfera.
A mobilização de terra pela agropecuária
A agricultura é a atividade econômica praticada pelo Homem que maior área de terra utiliza.
Metade da terra habitável do mundo é usada para a agricultura, sendo 80% desta ocupada pela pecuária. O uso extensivo destas terras agrícolas globais tem um grande impacto no meio ambiente da Terra, reduzindo a vida selvagem e ameaçando a biodiversidade.
Cada produto alimentar utiliza diferentes quantidades de terra para a sua produção, sendo a carne um dos produtos que maior área ocupa, como podemos ver nos gráficos adjacentes.
Para a criação de animais como a ovelha e o carneiro utilizamos a maior parte das terras agrícolas, sendo necessários 369.81 m² para produzir apenas 1kg de carne de borrego ou carneiro. No caso de animais como a vaca utilizamos cerca de 326.21 m² para produzir apenas 1kg desta carne. Embora no caso dos porcos a utilização de terras agrícolas diminua drasticamente ainda é necessário utilizar 17.36 m² para produzir 1kg de carne de porco.
A pecuária ocupa quase 80% das terras agrícolas globais, mas produz menos de 20% do suprimento mundial de calorias. Com esta informação chegamos a conclusão que o que comemos é mais importante do que quanto comemos para determinar a quantidade de terra necessária para produzir os nossos alimentos.
Quando pensamos em chocolate preto, relacionamo-lo sempre com algo saudável e consequentemente imaginamos que a produção deste chocolate não tenha um efeito prejudicial para o ambiente. Porém para produzir apenas 1 kg de chocolate preto são necessários 68.96 m² de terra agrícola.
As leguminosas possuem custos ambientais de produção inferiores a outros alimentos. Em comparação com a carne, as leguminosas necessitam de uma menor área agrícola para a sua produção. Para produzir 1 kg de ervilhas, por exemplo, são necessários apenas 7,46 m² de terra, sendo este valor muito inferior aos referidos anteriormente.
Para a produção de produtos lácteos precisamos de utilizar leite, sendo este fornecido pelos rebanhos. Uma vez que na criação de rebanhos utilizamos uma grande área de terra, o fabrico destes produtos, ainda que de forma indireta, também implicará um elevado uso de terra.
Para produzir apenas 1 litro de leite são usados 8.95 m² de terra agrícola e, consequentemente, são usados 87.79 m² para produzir 1kg de queijo, uma vez que são necessárias grandes quantidades de leite para produzir uma pequena quantidade de queijo.
Assim como as leguminosas, os produtos vegans possuem baixos custos ambientais de produção em comparação com outros alimentos.
Para produzir 1kg de tofu e 1kg de leite de soja são necessários apenas 3,52 m² e 0,66 m² de terra agrícola respetivamente.
Se o mundo adotasse uma dieta baseada em vegetais, reduziríamos o uso global da terra agrícola de 4 para 1 bilião de hectares (redução de 75%) o que equivale a uma área do tamanho da América do Norte e do Brasil juntos. Isto era possível uma vez que maior parte destas terras são usadas para a criação de pecuária e produção de alimento para os animais.
Sendo assim com apenas 1 bilião de hectares conseguiríamos fornecer todos os alimentos de que o mundo precisaria se adotasse uma dieta vegan. Mas nem toda a gente concorda com a adoção desta dieta. Porém, cortar o consumo apenas de carne bovina, carneiro e laticínios, nem que fosse parcialmente, já faria uma grande diferença na diminuição das terras agrícolas utilizadas e consequente emissão de GEE’s..
Diminuir o uso intensivo de áreas agrícolas e aumentar a produtividade da terra possibilitaria a produção de alimentos com consumos muito menores e reduziria o impacto no meio ambiente.
O consumo de água
A agricultura é a atividade econômica praticada pelo Homem que mais água doce utiliza .
Em países como Portugal, as condições áridas ou semiáridas obrigam ao aumento deste recurso na irrigação, traduzindo-se em cerca de 80% da água consumida.
Diferentes produtos alimentares apresentam diferentes pegadas hídricas. A pegada hídrica de um animal é calculada baseando-se no consumo de água durante toda a sua vida, incluindo a que é utilizada na higiene, na alimentação e no consumo propriamente dito.
O processo de produção da ração para a alimentação dos animais é o principal destino do total de água utilizada.
No setor agrícola, o arroz é a cultura mais intensiva em água, representando cerca de 21% do uso total de água agrícola, seguido pelo trigo (12%) e milho (9%). Estes valores dependem não só da produção mundial, mas também das necessidades hídricas de cada produto, do processo de transformação e das características do local onde o produto é produzido.
No que diz respeito às carnes brancas, como o frango, se considerarmos que cada frango pesa aproximadamente 1,7 kg e que consome 3,3 kg de ração até o seu abatimento, podemos concluir que são necessárias cerca de 30 L de água para suprir as suas necessidades hídricas. Assim, para 1 kg de frango, são necessários cerca de 20 litros de água.
Em relação à carne vermelha, em especial a carne bovina, o abate do animal ocorre após 3 anos de vida. Durante esses 3 anos de vida, uma vaca que consuma 1300 kg de ração e 7200 kg de forragem, irá precisar de 24000 litros de água para se hidratar e de 7000 litros para a limpeza geral. Assim, para a produção de 1 kg de carne bovina são necessários 15500 litros de água.
As leguminosas produzidas em Portugal possuem custos ambientais de produção inferiores a outros alimentos.
Em comparação com a carne, as leguminosas possuem uma pegada hídrica inferior a 88%. sendo que para a produção de 1 Kg de leguminosas são gastos cerca de 4L de água
As grandes quantidades de água utilizadas pela indústria láctea devem-se essencialmente às condições sanitárias e de higiene. A água consumida neste tipo de indústria depende também do produto, da capacidade de produção e da idade das instalações, atendendo a que as indústrias com instalações tecnológicas mais antigas ou desatualizadas, consomem mais recursos naturais do que as mais recentes.
A pegada hídrica do leite estima que sejam necessários 1020 litros de água para se produzir 1 litro de leite e, em média, 1 litro de leite de vaca produz 95 g de queijo. Assim, a produção de 1 kg de queijo exige o gasto de 5060 litros de água e para 1 kg de manteiga são necessários 18000 litros de água, sendo que a produção de ambos está diretamente relacionada com a quantidade de leite utilizado.
- Tomate: 214 L/Kg
- Alface: 237 L/Kg
- Repolho: 237 L /Kg
- Pepino: 353 L/Kg
- Maçã: 822 L/Kg
- Laranja: 560 L/Kg
- Pêssego: 910 L/Kg
- Manga: 1800 L/Kg
- Banana: 790 L/Kg
- Arroz: 2497 L/Kg
- Massa: 1849 L/Kg
- Batata: 287 L/Kg
- Milho: 1222 L/Kg
https://actaportuguesadenutricao.pt/wp-content/uploads/2020/12/08_ARTIGO-REVIS%C3%83O.pdf
Quando a água de um meio oligotrófico é enriquecida em nutrientes, proporciona rápido crescimento e multiplicação do fitoplâncton, provocando um aumento da turbidez da água (propriedade física dos fluidos que se traduz na redução da sua transparência devido à presença de materiais em suspensão que interferem com a passagem da luz através do fluido). O aumento de turbidez reduz a luminosidade necessária às plantas aquáticas submersas. Embora a luz possa continuar a penetrar até ao leito do rio ou lago, a fotossíntese da vegetação aquática pode ser bloqueada pelo facto de as suas folhas e caules poderem ser envolvidos por algas epífitas, que se desenvolvem rapidamente na água rica em nutrientes.
Com a perda da vegetação aquática submersa, o alimento, o habitat e o oxigénio libertado pela fotossíntese desaparecem. Apesar de o fitoplacton ser constituído também por organismos fotossintéticos, o oxigénio é libertado junto da superfície da água, que acaba por saturar e libertá-lo para a atmosfera. Assim, este não atinge a zona profunda.
Em condições ótimas, a biomassa do fitoplâncton pode duplicar em cada 24 horas. Quando o fitoplâncton ultrapassa o máximo de densidade populacional consentânea com as condições de vida, morre e deposita-se como detritos no leito do rio ou lago.
Por seu lado, a abundância de detritos permite a vida a um grande número de decompositores, especialmente bactérias aeróbias. O seu crescimento explosivo cria uma necessidade adicional de oxigénio dissolvido, pois as bactérias consomem oxigénio na respiração. O resultado é o esgotamento do oxigénio, com a consequente asfixia de peixes e outra fauna aquícola. Este esgotamento permite o desenvolvimento de bactérias anaeróbias. O crescimento deste tipo de bactérias ocorre enquanto os detritos são suficientes para suportar a sua vida. A decomposição leva à formação de produtos orgânicos ou minerais que têm cheiros desagradáveis e são muitas vezes tóxicos.
Ocorrem ainda algumas oxidações químicas diretas da matéria orgânica morta e de outros compostos, que criam uma necessidade adicional de oxigénio dissolvido, que muitas vezes já quase não existe.
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Adaptado de: Porto Editora – eutrofização na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2022-05-30 19:04:19]. Disponível em
Alterações da biodiversidade e património genético pela produção em monocultura e introdução de Organismos Geneticamente Modificados (OGM’s).
A monocultura é a produção agrícola de uma única espécie vegetal. Como tal, pode afetar diretamente a biodiversidade no que toca ao património genético.
- Exaustão do solo
- Uso intenso de agrotóxicos
- Favorecimento para o ciclo de pragas e doenças em larga escala
- Deflorestação de grandes áreas
- Perda da biodiversidade
- Desequilíbrio ecológico
- Uso irracional e irregular dos recursos hídricos para a irrigação.
Com o avanço da tecnologia, há cerca de duas décadas, surgiu a Engenharia Genética, uma área inovadora que tornou possível fazer modificações em organismos vivos, de forma a passarem a apresentar características mais vantajosas para o ser humano, por meio de cruzamento/reprodução sexuada e/ou de recombinação natural, que não ocorre na natureza.
Essa modificação deu origem ao que chamamos…
Foi, assim, possível transferir determinada característica de um organismo para outro. Isso deu origem, por exemplo, a plantas mais resistentes às pragas, espécies com maturação mais lenta e, até mesmo, à possibilidade de produzir hormonas a partir de bactérias.
Os organismos vivos, quando libertados no ambiente, para fins experimentais ou sob a forma de produtos comercializados, e/ou em resultado da respetiva utilização/manipulação, são suscetíveis de se reproduzir, o que gera alguns possíveis riscos como:
- Contaminação;
- Transmissão horizontal de genes;
- Declínio de populações endêmicas;
- Exposição de espécies a novos agentes tóxicos ou patógenos;
- Desaparecimento de plantas menos adaptadas;
- Surgimento de novas pragas;
- Perda de biodiversidade;
- Exposição do solo, rios e lagos, que poderiam ser poluídos, etc.
A proteção da saúde humana e do ambiente exige particular atenção aos riscos relacionados com a utilização das biotecnologias, em particular dos produtos que resultam da modificação genética de organismos vivos. A libertação no ambiente de OGM e a comercialização de produtos que contenham ou sejam constituídos por OGM devem por isso ser acompanhadas de instrumentos que proporcionem uma avaliação rigorosa dos riscos envolvidos.
https://iconline.ipleiria.pt/bitstream/10400.8/2904/1/art-3.pdf
A agricultura regenerativa
A agricultura regenerativa reverte as mudanças climáticas, reconstruindo a matéria orgânica do solo e restaurando a sua biodiversidade degradada – resultando na retirada de carbono e melhoria no ciclo da água.
Isso significa que a agricultura regenerativa vai além dos cuidados orgânicos, e pode ser a chave para minimizar os impactos negativos do cultivo no mundo. As suas práticas procuram um meio de cuidar e restaurar o solo, antes, durante e depois do cultivo, sem contar com poluentes ou qualquer tipo de material sintético para isso. O que ela apregoa é que, conhecendo nosso solo e o que ele necessita, podemos plantar vegetais que ajudem à sua recuperação em conjunto, ou alternadamente, com o que pretendemos produzir.
Algumas de suas principais práticas são:
- Rotação de culturas, ou cultivo de mais de um tipo de vegetal no mesmo espaço;
- Plantio durante todo o ano, em circuito fechado, sem deixar a terra vazia entre culturas, para evitar a erosão do solo e a libertação de CO2;
- Cultivo sem aragem de campos, para evitar desgaste e emissão de carbono;
- Uso de produtos 100% naturais para fertilização, como esterco ou outros resíduos orgânicos;
http://vozdocampo.pt/2020/09/03/o-solo-e-a-agricultura-de-conservacao/
https://girlsingreen.net/solo-o-maior-patrimonio-da-humanidade/