Resposta a «Carta para Josefa, minha avó» de José Saramago
Paraíso, 24 de março de 1968
Querido Zezinho,
As tuas palavras tocaram-me de tal forma que era inevitável deixar-te a pensar que são verdade.
Sei que tens noção de que não tive capacidade para, juntos, vivermos mais e melhor; contudo, nunca pus em questão o teu amor por mim. Compreendo que não percebas a forma como vivi no meu mundo, o quão feliz fui assim. Afinal de contas, não nasceste nem cresceste nele. No entanto, uma coisa eu posso afirmar – embora tudo o que tenha feito aí em baixo não tenha sido tão importante, quanto os vossos trabalhos -, tenho o privilégio de poder dizer que, até aos meus últimos dias, fiz aquilo de que realmente gostava. É também uma verdade que a nossa comunicação não foi a melhor e que não tivemos muitos dos momentos de avó e neto que idealizaste, através do que observavas das famílias modernas, da cidade. Ainda assim, a forma como corrias para mim e o sorriso que contigo trazias rapidamente superavam o que qualquer outra família poderia sentir. Talvez nunca tenhas interpretado dessa forma, mesmo que, para mim, não haja uma melhor maneira de o descrever.
Como sabes, não poderia ter sido eu a escrever esta carta, mesmo desejando-o muito; todavia, tudo o que está aqui escrito foi pensado e sentido somente por mim.
Beijinhos repletos de saudades,
A tua avó Josefa
Texto feito por: Catarina Teixeira 10.º C