Chove. É Dia de Natal
Chove. É dia de Natal.
Lá para o Norte é melhor:
há a neve que faz mal,
E o frio que ainda é pior.
E toda a gente é contente
porque é dia do ficar.
Chove no Natal presente.
Antes isso que nevar.
Pois apesar de ser esse
O Natal da Convenção,
quando o corpo me arrefece
tenho frio e Natal não.
Deixo sentir a que quadra
e o Natal a quem o faz,
pois se escrevo ainda outra quadrada
fico gelado dos pés.
Fernando Pessoa
Natal dos simples
Vamos cantar as janeiras
Vamos cantar as janeiras
Por esses quintais adentro vamos
Às raparigas solteiras
Vamos cantar orvalhadas
Vamos cantar orvalhadas
Por esses quintais adentro vamos
Às raparigas casadas
Vira o vento e muda a sorte
Vira o vento e muda a sorte
Por aqueles olivais perdidos
Foi-se embora o vento norte
Muita neve cai na serra
Muita neve cai na serra
Só se lembra dos caminhos velhos
Quem tem saudades da terra
Quem tem a candeia acesa
Quem tem a candeia acesa
Rabanadas pão e vinho novo
Matava a fome à pobreza
Já nos cansa esta lonjura
Já nos cansa esta lonjura
Só se lembra dos caminhos velhos
Quem anda à noite à ventura
José Afonso
Presentinho de natal
Eu queria ter um cestinho cheio de flores
Para tecer um xaile de muita cor, muito lindo!
E um retalhinho de Céu
Para fazer um vestido azul tão lindo!
E mais sete estrelas das mais brilhantes
Para armar um chapeuzinho de luz!
E mais ainda dois quartinhos de lua!
Que chegassem para uns sapatos de saltos muito altos.
E tudo isto, depois,
Eu dava a minha Mãe
De dentro do meu coração
Neste dia de Natal:
O xailezinho de muita cor,
O vestido azul,
O chapeuzinho de luz,
Os sapatinhos de saltos muito altos…
Minha Mãe! minha Mãe!
Hoje é o dia de Natal
E só posso dizer:
Minha Mãe! minha Mãe!
Matilde Rosa Araújo,
O Livro de Tila
Os três reis
Quando os três reis souberam
que nascera Jesus Cristo
montaram nos seus cavalos
foram fazer o serviço.
Foram a casa de Herodes
que lhes ensinasse o caminho
Herodes, com o perverso,
atraiçoou o Menino.
Herodes, o rei malvado,
Herodes, o rei mesquinho,
às avessas ensinou
aos santos Reis o caminho.
Logo Deus ouviu o céu
um tão grande desatino
logo Deus mandou uma estrela
que lhes guiasse o caminho.
Alice vieira,
Eu bem vi nascer o sol
(Antologia de poesia popular portuguesa)
Presépio
Nuzinho sobre as palhas,
nuzinho, em Dezembro!
Que pintores tão cruéis,
Menino te pintaram!
O calor do teu corpo,
pra que o quer tua Mãe?
Tão cruéis os pintores!
(Tão injustos contigo,
Senhora!)
Só a vaca e a mula
com seu bafo te aquecem…
– Quem as pôs na pintura?
Pelo sonho é que vamos
Sebastião da Gama
O primeiro presépio
Sabem quem teve a ideia de armar o primeiro presépio? Foi S. Francisco de Assis.
O grande santo meditava muito no mistério do nascimento do Salvador. Queria também que todas a pessoas admirassem e vissem com os seus próprios olhos a realidade da pobreza externa em que Jesus tinha nascido. Queria compor de verdade um quadro semelhante para que, vendo-o, todos sentissem melhor o amor que Lhe devemos.
Estando em Roma falou nessa ideia ao Papa, que a achou boa, e logo S. Francisco pediu ajuda ao seu amigo chamado João de Velita, que tinha uma propriedade no bosque de Grécio.
João de Velita preparou tudo conforma S. Francisco imaginara: um altar armado para se celebrar a missa e numa gruta do monte um feixe de palha, uma vaquinha e um burro. Mais nada. Cada qual imaginasse o Menino, a Virgem Maria e S. José.
Depois convidaram-se as pessoas dos arredores e os frades dos vários conventos para que viessem assistir à missa da meia-noite na floresta.
E assim foi. De todos os lados chegava gente com archotes e lanternas, cantando em louvor de Jesus Menino.
S. Francisco chegou e ajoelhou também diante daquele pobre cenário.
Rezou profundamente, e o milagre aconteceu:
O bom João Velita viu que o santo segurava nos seus braços o menino Jesus e que este lhe acariciava a face magra e pálida!
Daí em diante espalhou-se o uso de compor o quadro do nascimento de Jesus.
Na polónia, as zopkas são casinhas com a forma de estábulo, dentro das quais estão as figuras que representam Nossa Senhora, S. José e o Menino.
Na cidade brasileira de S. Paulo existe um famoso museu de presépios.
Em Portugal há numerosos presépios antigo, espalhados pelas igrejas de todo o país, e muitos deles são de autoria do grande escultor Machado de Castro.
Adaptação portuguesa de Ricardo Alberty e Maria Isabel Mendonça Soares,
O Livro de Ouro do Natal.