2008 ou mais palavras sobre o Natal…

Chove. É Dia de Natal

Chove. É dia de Natal.

Lá para o Norte é melhor:

há a neve que faz mal,

E o frio que ainda é pior.

E toda a gente é contente

porque é dia do ficar.

Chove no Natal presente.

Antes isso que nevar.

Pois apesar de ser esse

O Natal da Convenção,

quando o corpo me arrefece

tenho frio e Natal não.

Deixo sentir a que quadra

e o Natal a quem o faz,

pois se escrevo ainda outra quadrada

fico gelado dos pés.


Fernando Pessoa



Natal dos simples

Vamos cantar as janeiras

Vamos cantar as janeiras

Por esses quintais adentro vamos

Às raparigas solteiras

Vamos cantar orvalhadas

Vamos cantar orvalhadas

Por esses quintais adentro vamos

Às raparigas casadas

Vira o vento e muda a sorte

Vira o vento e muda a sorte

Por aqueles olivais perdidos

Foi-se embora o vento norte

Muita neve cai na serra

Muita neve cai na serra

Só se lembra dos caminhos velhos

Quem tem saudades da terra

Quem tem a candeia acesa

Quem tem a candeia acesa

Rabanadas pão e vinho novo

Matava a fome à pobreza

Já nos cansa esta lonjura

Já nos cansa esta lonjura

Só se lembra dos caminhos velhos

Quem anda à noite à ventura

José Afonso



Presentinho de natal

Eu queria ter um cestinho cheio de flores

Para tecer um xaile de muita cor, muito lindo!

E um retalhinho de Céu

Para fazer um vestido azul tão lindo!

E mais sete estrelas das mais brilhantes

Para armar um chapeuzinho de luz!

E mais ainda dois quartinhos de lua!

Que chegassem para uns sapatos de saltos muito altos.

E tudo isto, depois,

Eu dava a minha Mãe

De dentro do meu coração

Neste dia de Natal:

O xailezinho de muita cor,

O vestido azul,

O chapeuzinho de luz,

Os sapatinhos de saltos muito altos…

Minha Mãe! minha Mãe!

Hoje é o dia de Natal

E só posso dizer:

Minha Mãe! minha Mãe!

Matilde Rosa Araújo,

O Livro de Tila



Os três reis

Quando os três reis souberam

que nascera Jesus Cristo

montaram nos seus cavalos

foram fazer o serviço.

Foram a casa de Herodes

que lhes ensinasse o caminho

Herodes, com o perverso,

atraiçoou o Menino.

Herodes, o rei malvado,

Herodes, o rei mesquinho,

às avessas ensinou

aos santos Reis o caminho.

Logo Deus ouviu o céu

um tão grande desatino

logo Deus mandou uma estrela

que lhes guiasse o caminho.

Alice vieira,

Eu bem vi nascer o sol

(Antologia de poesia popular portuguesa)


Presépio

Nuzinho sobre as palhas,

nuzinho, em Dezembro!

Que pintores tão cruéis,

Menino te pintaram!

O calor do teu corpo,

pra que o quer tua Mãe?

Tão cruéis os pintores!

(Tão injustos contigo,

Senhora!)

Só a vaca e a mula

com seu bafo te aquecem…

– Quem as pôs na pintura?

Pelo sonho é que vamos
Sebastião da Gama

O primeiro presépio

Sabem quem teve a ideia de armar o primeiro presépio? Foi S. Francisco de Assis.

O grande santo meditava muito no mistério do nascimento do Salvador. Queria também que todas a pessoas admirassem e vissem com os seus próprios olhos a realidade da pobreza externa em que Jesus tinha nascido. Queria compor de verdade um quadro semelhante para que, vendo-o, todos sentissem melhor o amor que Lhe devemos.

Estando em Roma falou nessa ideia ao Papa, que a achou boa, e logo S. Francisco pediu ajuda ao seu amigo chamado João de Velita, que tinha uma propriedade no bosque de Grécio.

João de Velita preparou tudo conforma S. Francisco imaginara: um altar armado para se celebrar a missa e numa gruta do monte um feixe de palha, uma vaquinha e um burro. Mais nada. Cada qual imaginasse o Menino, a Virgem Maria e S. José.

Depois convidaram-se as pessoas dos arredores e os frades dos vários conventos para que viessem assistir à missa da meia-noite na floresta.

E assim foi. De todos os lados chegava gente com archotes e lanternas, cantando em louvor de Jesus Menino.

S. Francisco chegou e ajoelhou também diante daquele pobre cenário.

Rezou profundamente, e o milagre aconteceu:

O bom João Velita viu que o santo segurava nos seus braços o menino Jesus e que este lhe acariciava a face magra e pálida!

Daí em diante espalhou-se o uso de compor o quadro do nascimento de Jesus.

Na polónia, as zopkas são casinhas com a forma de estábulo, dentro das quais estão as figuras que representam Nossa Senhora, S. José e o Menino.

Na cidade brasileira de S. Paulo existe um famoso museu de presépios.

Em Portugal há numerosos presépios antigo, espalhados pelas igrejas de todo o país, e muitos deles são de autoria do grande escultor Machado de Castro.

Adaptação portuguesa de Ricardo Alberty e Maria Isabel Mendonça Soares,

O Livro de Ouro do Natal.

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