Negligência da humanidade
Sofia Barbosa | 10.ºA
Durante séculos, o Homem distinguiu-se dos restantes seres vivos, não só pela sua capacidade intelectual e de comunicação, mas também, acima de tudo, pela sua capacidade de sentir empatia e dor pelo sofrimento do outro. O que realmente distinguia o ser humano dos demais era a sua Humanidade.
Ultimamente, o nosso planeta tem sido governado pela ganância, pelo orgulho, pelo ódio, pela vingança, pelo materialismo. No outro lado do espetro, consequência deste egocentrismo, existem epidemias de fome, sede, dor, sofrimento, perda, medo: o peso de todo esse egoísmo e narcisismo faz-se sentir. E o que fazem as populações? Quem nada faz para parar o mal é cúmplice, culpado.
A germinação do amor, da compaixão e do altruísmo foi abolida há muito. Talvez porque o cultivo da tragédia é mais fácil, mais rápido. Não precisa de tempo ou cuidado nem é frágil. A tragédia é de rápida propagação. O Homem deixou de sentir pena dos mortos, dos doentes, dos pobres, dos animais, dos sem-abrigo. Não vê nada mais para além do seu próprio umbigo. Vê inutilidade nos mais frágeis, quando tudo o que estes precisam é de oportunidade.
«Os pássaros existem para nos ensinar coisas sobre o céu»: li esta frase há pouco num livro. Penso que se encaixa no tema. Depois de ver um pássaro ser alvejado, o protagonista sublinha que até os seres mais pequenos têm um papel no nosso planeta. Todos merecem viver. Começam a ser raras as pessoas que partilham desta verdade. É provavelmente devido a esse facto, devido à ausência de pessoas verdadeiramente boas, que o mundo se está a negligenciar de toda a sua humanidade.
O maior bicho-papão de sempre: o Homem
Sofia Barbosa | 10.ºA
A lenda do bicho-papão é muito temida pelas crianças. Este monstro assume a forma daquilo que elas mais receiam e toma esconderijo nas sombras dos seus quartos. O meu bicho-papão, por outro lado, não teme a luz. Na verdade, o meu bicho-papão segue-me para todo o lado. O meu bicho-papão é o Homem.
Que bicho cruel e selvagem é aquele que inflige tanta dor na sua própria espécie! Quanto ódio e maldade são necessários para se conseguir obter prazer no sofrimento dos seus iguais! Que monstro bárbaro e desumano mata e aniquila e tortura os mais frágeis dos seus pares, procurando apenas reforçar o seu poder! Um monstro egoísta, vaidoso e impiedoso que busca sempre mais e mais e mais. Mais poder, mais fama, mais respeito, mais dinheiro, mais bens, mais força, mais controlo. Controlo, controlo, controlo. Um bicho que só aceita a sua opinião e mais nenhuma. Afinal de contas, a sua opinião é a melhor, porque a sua espécie é a melhor – não há melhor do que ele próprio!
O meu bicho-papão é o Homem. O Homem é uma espécie terrível que se alimenta do rancor e da vingança. O Homem não conhece limites e fará o impossível para alcançar aquilo que quer. O Homem, destrutivo e exterminador, toma tudo como seu. Limita-se a tirar e a tirar e a tirar. Nunca dá, nunca devolve, nunca retribui. O meu bicho-papão não conhece o altruísmo e o amor. O meu bicho-papão pratica apenas aquilo que o fará permanecer no topo da cadeia alimentar. A bondade não consta dessa lista. A bondade requer pôr os outros em primeiro lugar, e o meu bicho-papão não o sabe fazer. O meu bicho-papão é o cúmulo do narcisismo.
No entanto, o meu bicho-papão não é tão forte como aparenta. Não é que ele não tema a luz, tem apenas medo do escuro. O poder dos restantes bichos deixam-no apavorado, então o Homem retrata-se como intocável, esperando que esta imagem afaste todos outros. O que o Homem não sabe é que ele será a sua própria desgraça. E, daqui a nada, não serei a única a ter o Homem como bicho-papão.