Visita de estudo a Lisboa – deambulação geográfica e literária

No dia 30 de maio, quarta-feira, os alunos do 12º ano do ensino regular (turmas A, B e C), acompanhados pelas respetivas diretoras de turma, Luísa Sousa, Conceição Valente e Margarida Duarte, e pelas professoras Isabel Costa e Clara Faria, realizaram uma visita de estudo a Lisboa.

Pretendia-se, sobretudo, que os alunos visitassem a Fundação José Saramago e a Casa-museu Fernando Pessoa e que, inspirados no romance “O Ano da Morte de Ricardo Reis”, percorressem a capital (“cidade labiríntica”), reconhecendo alguns dos lugares visitados pelo protagonista de Saramago – Ricardo Reis, “Chove sobre a cidade pálida, as águas do rio correm turvas de barro, há cheias nas lezírias. Um barco escuro sobe o fluxo soturno, é o Higland Brigade que vem atracar ao cais de Alcântara”.

Orientados por três guias turísticos, disponibilizados pela Fundação José Saramago, os alunos puderam deambular e rever a matéria “in loco”, partilhando os caminhos também percorridos por Ricardo Reis: Tejo, Cais das Colunas, Praça do Comércio (“Aqui onde o mar se acaba e a terra principia.”), Rua Augusta, com o seu monumental Arco, não do triunfo, Rua do Arsenal, marcada pela Praça do Município (com a exótica escultura, “Grade”, de Jorge Vieira), palco das mais diversas celebrações políticas e futebolísticas; Rua do Arsenal de novo, Cais do Sodré e o “Hotel Bragança” (“…perto do rio só se for o Bragança, ao princípio da Rua do Alecrim…”). Um pouco mais acima, no Largo do Barão de Quintela, a estátua de Eça de Queirós, escritor romancista e figura incontornável da cultura portuguesa (“Ricardo Reis para diante da estátua de Eça de Queirós ou Queiroz, por cabal respeito da ortografia que o dono do nome usou, ai como podem ser diferentes as maneiras de escrever… provavelmente é a língua que vai escolhendo os escritores de que precisa, serve-se deles…”).

Como “Todos os caminhos vão dar a Camões”, lá estava a estátua do autor d’ “Os Lusíadas”, poeta no seu pedestal, mesmo no meio do Largo com o seu nome, omnipresente no texto de Saramago e na memória coletiva dos portugueses.
O caminho era agora para o Alto de Santa Catarina onde “um grande bloco de pedra, toscamente desbastado, (…) parece um mero afloramento de rocha, e afinal é monumento – o furioso Adamastor! “. Após a deslumbrante vista sobre o Tejo, “mais belo que o rio da [minha] nossa aldeia”, onde deslizavam navios de cruzeiro, lembrando viagens de além-mar, os alunos inverteram a marcha: elevador da Bica, Rua do Alecrim,Travessa dos teatros, teatro S. Carlos, Rua António Maria Cardoso, Teatro São Luís, e, de novo, Praça Luís de Camões. No Largo do Chiado, na aguardada esplanada da Brasileira, um encontro rápido com o poeta Fernando Pessoa – retrato intimista “à la minute” – cumpriu-se o ritual e o poeta foi de novo português (caros turistas, agora somos nós, porque apesar de não sermos nada, temos em nós todos os sonhos do mundo!).

Rua do Carmo abaixo, o monumento de ferro rendado – o Elevador de Santa Justa – surpreendeu os alunos que desembocaram na Praça do Rossio, a lembrar D. Pedro IV, altivo e indiferente às fontes e flores que pintam e refrescam os nossos olhos. Fizeram-se as despedidas dos guias e de Ricardo Reis, criação de Fernando Pessoa, sobrevivente ao seu criador, e ficção ficcionada de José Saramago.

Nas duas horas que se seguiram, a viagem deixou de ser literária para se transformar em “viagem de sabores” – um percurso de fome e gula à roda das caixinhas de comida que as mãezinhas tinham preparado!

Saciados os apetites ainda jovens, era preciso subir em direção ao Rato para visitar a casa do poeta, situada emCampo de Ourique. Alunos e professoras entregaram-se às palavras abundantes e sábias de quem priva diariamente com a obra do poeta na famosa Casa Museu Fernando Pessoa! Assim, revisitou-se a vida e a escrita poética do ortónimo e dos seus heterónimos. A revisão da matéria estava concluída.

Às 6 horas da tarde, já em Belém, os alunos encheram os olhos com a monumentalidade do Mosteiro dos Jerónimos, atravessaram o jardim, observaram, do lado direito, o famoso CCB, desceram a escadaria e percorreram o túnel por baixo da linha do comboio (como manda a tradição, os ecos transformaram os urros em contentamento geral), subiram de novo e abraçaram visualmente o Padrão dos Descobrimentos. No topo do monumento, a uma altura de cerca de 270 degraus, preguiçosamente percorridos de elevador, todos puderam desfrutar de uma vista deslumbrante sobre o Tejo e sobre a parte ocidental da cidade.

Em baixo, na rosa-dos-ventos, foi tempo de memórias, olhares, poses e risos, tudo cristalizado nas fotografias captadas pelos quotidianos “gadgets”.

Finalmente, foi dada ordem para dispersar e jantar livremente nos jardins de Belém que, tal como em qualquer capital europeia, oferecia aos alunos um McDonald’s de primeira com a sua bela esplanada. Claro que a sobremesa foi servida ao balcão da centenária Fábrica dos Pastéis de Belém (talvez porque as saudades de casa e da família já apertassem, muitos alunos traziam na mão o tradicional saquinho com os famosos pastéis… claro que algumas mãos estavam vazias… cheias, provavelmente, de esperança num futuro mais doce!).

Na hora do regresso, como o prometido é devido, o autocarro embrenhou-se de novo na urbanidade de Lisboa: subiu aos Restauradores, e parou por alguns minutos junto ao antigo cinema Condes, agora transformado no internacionalHard Rock Café. Os alunos entraram aos magotes e puderam timidamente apreciar um certo ambiente rockeiro e cosmopolita.

Enfim, a jovialidade dos alunos era ainda escandalosamente estridente e, por vezes, dolorosamente, alegre, mas era tempo de retomar a rotina…

E foi outra vez a estrada, o cansaço bom, a noite, as cantorias, os afetos ainda imberbes e a certeza de que esta tinha sido a derradeira e irrepetível visita de estudo… porque, afinal, é aqui que a escola acaba e a vida (talvez universitária) principia …promessa de um futuro que se espera melhor!

As professoras participantes: Clara Faria, Conceição Valente, Isabel Costa, Luísa Sousa e Margarida Duarte

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