Tal como no século XVII, Vieira continua a pregar aos peixes….
Vós, peixes, tendes um defeito que muito me entristece. Não bastava terdes inimigos externos que vos perseguem até ao extermínio? Também gostais de aterrorizar os mais fracos e desprotegidos? Atacar o próximo por prazer é pecado punível eternamente. Imitai Santo António que fugiu dos homens que o perseguiam para se dedicar à quietação e humildade.
Dir-me-eis que o vosso exemplo vem dos homens. É certo que o homem é um ser racional e temente a Deus. Mas a sua maldade e violência atingiu tais proporções no século XXI que é preferível esquecer a terra e buscar um exemplo a imitar nos elementos mais cálidos. Vede os novos tubarões deste século. Olhais para o mar? Não! Para a terra, para a terra é o local indicado. Os homens acreditam que são insubstituíveis, que ninguém os poderá enfrentar e derrotar. O pior caso não é o das populações analfabetas e indigentes; vede como os poderosos descobrem a melhor forma de fugir à lei e ameaçar os pequenos com ela. A televisão, esse monstro ignominioso, difunde todos os dias imagens de violência física, verbal e psicológica: o homem agride os polícias, ataca os incautos, rouba a propriedade alheia, insulta os vizinhos, ameaça matar reféns para conseguir o que quer.
E o que quer ele? Ser o dono do mundo sem nada fazer! Como ele não esqueçais algo importante: o único dono do mundo é Deus que nada quis e tudo fez.
Texto coletivo 11.º A e 11.º B
Hoje em dia, meus caros peixes, os Homens comem-se uns aos outros sem motivo e sem razão. Nestes momentos pergunto-me: sereis vós, os peixes, irracionais ou eles, que matam e violentam tudo e todos?
Vós comeis-vos uns aos outros, é verdade, mas com o propósito da sobrevivência, enquanto os Homens, animais portadores da razão, comem-se uns aos outros sem uma razão aparente, não é por sobrevivência ou será que é? Não pela sobrevivência do corpo, mas sim pela sobrevivência da alma que se alimenta na violência e na ira gerada por este ato.
O Homem, ser criado por Deus Nosso Senhor, em vez de seguir a Sua doutrina, doutrina esta que diz para se respeitarem, não o fazem, preferindo desprezá-la. Desprezam-na ao não cumprirem a sua doutrina verdadeiramente, em vez de se ajudarem, comem-se, magoam-se e tornam-se em sal que não salga.
Em vez de usarem a doutrina sagrada, preferem virar-lhe costas e fazer o oposto. Comem-se uns aos outros muitas vezes, porque se sentem ameaçados e pensam que a única maneira de triunfar é livrar-se do inimigo e, por isso, comem-no. Passam o tempo a atacarem-se uns aos outros sendo amigos, família ou mesmo desconhecidos… É como se a paz que, anteriormente, reinava na alma e no coração se tornasse em ira, num ódio inabalável pelo outro, por algo alheio a vós.
Ai peixes, como eu temo que acabeis como os Homens, sem paz, que acabeis a cobiçar tudo e todos, que a única forma de obterdes o que procurais seja através da violência, que acabeis por desprezar a doutrina do Nosso Criador, que vos torneis sal impuro, isto é sal que não salga. Não salga porque não respeita a doutrina, mas, muitos de vós que a desrespeitam, esperais ter lugar reservado para a vossa alma no Paraíso divino, pois não vos enganeis, irmãos peixes, ser devoto a Deus não é só rezar, ouvir sermões, como este que vos faço ouvir. É refletir sobre eles, é, realmente, seguir a sagrada doutrina, é ser sal que salga.
Com estas palavras me despeço de vós, irmãos peixes, espero que com estas palavras consiga impedir que vos torneis num ser irracional e violento como o Homem, mas vamos esquecer o Homem porque eu prego a vós, peixes, e não aos Homens. Espero que respeiteis a doutrina e os vossos irmãos e que vivais num mundo sem violência, onde prevaleça a paz.
Gabriela Antunes n.º 7, 11.º A
Caros peixes, estando no século XXI, seria de esperar que mostrásseis dignidade, nomeadamente o tubarão branco.
És um ser competitivo, impulsivo, com uma violência aguçada, andas pelos mares sempre à espera da primeira oportunidade que tens para atacar. Preferes os mais pequenos, inferiores a ti, os que estão doentes ou os que têm mais gordura de maneira a poderes saciar-te bem. Apareces de surpresa às tuas vítimas, nadas por baixo delas e, à primeira oportunidade, atacas; primeiro mordes e depois ficas contente contigo mesmo pela conquista.
Não sejais, assim, peixes, honrai o vosso lugar nos mares. Deus protegeu-vos do Dilúvio, por isso não tenhais essa natureza má, com vontade de atacar quem nunca vos fez mal. Sirva-vos de exemplo o Homem, aquele que ataca os outros para chegar ao sucesso, aquele que ataca porque se sente inferior e até aquele que é impulsivo, tal como o tubarão branco, e ataca até os seus entes queridos.
Por isso, meus amigos peixes, não pratiqueis a violência, honrai a vossa vida, pensai no mal que fazeis uns aos outros, na maneira como destruis a vida de alguém. Sede bons, espalhai e praticai o bem. A vida tem muito para vos dar, se fizerdes por isso.
Linda Inês Rodrigues, 11ºA, nº13
Escuta agora tu, caravela-portuguesa! Que tu, de entre os peixes, és a mais maldosa! Quem te vê tão bela, calma e serena a navegar por estas ondas, não imaginaria que, com os teus longos e delgados braços caídos docemente pelo mar adentro, deixarias tal rasto de mágoa e destruição entre os teus irmãos peixes.
Não queiras tu, Caravela, ser como os homens! Estes, com os seus braços bem mais longos e bem mais firmes que os teus, gostam de agarrar e devorar, como muito gostas tu também de agarrar e devorar espinhas, escamas e guelras dos teus queridos irmãos. Mas os homens não ligam a espinhas e muito menos escamas ou guelras. Eles agarram corações, almas e liberdades deixando, como tu, impávidos e serenos, um rasto de amargura.
Agarrou Augusto Pinochet, com os seus braços, os corações de muitos e a todos os guiou sem piedade para o abismo do Inferno. Enquanto estes se comiam uns aos outros, disparando tiros, espalhando crueldade, ansiando por sangue, era ele, com os seus braços bem mais longos e bem mais firmes que os teus, quem lhes comia a alma, lhes comia a família e lhes comia o país.
Caravela, não tens piedade? Não vês os teus irmãos morrer? Não vês a vida escapar-se-lhes do corpo, enquanto lutam para se soltarem desses teus braços?
Fosses tu, caravela, como era Santo António. Ele, num mar de amarguras, estendia os seus braços e procurava corações; mas não tinha braços que estrangulavam. Os seus braços acolhiam. Tivesses tu, caravela, braços que acolhem e não estrangulam. É disso que o mundo precisa.
Sofia Morais, 11.º A n.º25
Os direitos humanos: uma utopia social?
Desde que o homem tomou consciência da sua especificidade como animal racional e, por isso, distinto de todos os demais, tornou-se pertinente a reflexão sobre a problemática da dignidade humana e dos direitos humanos.
Se no século XVII, homens como António Vieira pugnaram por uma sociedade mais justa, onde o Homem – independentemente da raça, credo ou classe social – fosse visto como um bem a preservar e merecedor de uma vida digna que o distanciasse de todos os outros animais: sem cativeiros, com a erradicação da pobreza e miséria moral, o acesso à saúde, educação e justiça, entre outros; ao contrário do esperado, hoje (quatro séculos depois), esses assuntos surgem de forma ainda mais contundente. Infelizmente, grande parte da humanidade vive abaixo do limiar da pobreza, em condições de insalubridade, sem acesso à saúde e educação. Para além disso, apareceram novos tipos de escravidão. Cada vez mais as pessoas são obrigadas a trabalhar para além do horário laboral sem receberem qualquer tipo de compensação. Surgiram, também, empresas que, sob falsos pretextos, contratam trabalhadores para efetuar trabalhos no estrangeiro, quando, afinal, vão ser convertidos em mão-de-obra escrava, alojados em contentores aos magotes como se fossem animais, privando-os de uma existência digna. Por outro lado, instituíram-se cadeias de tráfico de seres humanos (desde aquelas que manipulam imigrantes ilegais, às de venda de crianças e/ou mulheres para redes de prostituição). Neste novo universo, o ser humano é encarado como um mero objeto lucrativo, sem direito a qualquer tipo de tratamento humano.
Nunca como nos tempos modernos, a infração aos direitos humanos, consignados na Declaração Universal, atingiu tais proporções. De ser racional, com direito a uma existência digna, o Homem foi convertido num número gerador de lucros e destituído de qualquer tipo de vontade e/ou capacidade para lutar pelo respeito dos princípios que a citada declaração engloba.
Na comemoração da Declaração Universal dos Direitos Humanos
“Tenho um sonho que os meus quatro pequenos filhos viverão, um dia, numa nação, onde não serão julgados pela cor da sua pele, mas pela qualidade do seu carácter.”
Martin Luther King
Um dos maiores projetos da humanidade é construir um mundo onde a fraternidade, igualdade e respeito pelo outro sejam os denominadores comuns.
Muito embora, desde sempre, os mais diversos pensadores (como é o caso de Luther King, Ghandi, entre outros) tenham pugnado pela consciencialização da humanidade no que toca ao respeito pelos direitos humanos, infelizmente, ainda hoje não é possível descobrir essa nação onde alguém seja julgado pela “qualidade do seu carácter” em vez de pela raça, etnia, opções políticas, religiosas ou sexuais. Na generalidade dos países, mesmo aqueles que ratificaram a Declaração Universal dos Direitos Humanos, há vítimas de discriminação: não se permite a fruição de determinados direitos/privilégios com base em questões étnicas, raciais, entre outras. Na contemporaneidade, o respeito pelo outro está, muitas vezes, dependente do contexto social e/ou cultural envolvente. Por isso, ainda se pretere alguém em virtude do seu género sexual, opções políticas e religiosas. Raras são as vezes em que, efetivamente, um ser humano é valorizado pelo seu carácter, empenho e capacidade de trabalho; normalmente, mesmo que de forma velada, os princípios que conduzem à discriminação de alguém surgem na avaliação do outro.
Assim, enquanto a humanidade não aprender a aceitar o diferente, não abandonar a sua xenofobia, não existirá uma sociedade justa e igualitária, isto é, aquela em que todo o ser humano é valorizado pelas capacidades que demonstra ter e não por aquelas que lhe faltam.
profª Paula Morais