É já amanhã, dia 30, pelas 11:15 horas, que terá lugar no grande auditório uma sessão literária com o escritor Joel Neto, um dos grandes nomes da atual literatura portuguesa.
Dado o interesse cultural deste evento, aproveitamos para convidar todos a comunidade para esta sessão literária.
Joel Neto (n. 1974) é um romancista e colunista português. Escreveu uma dúzia de livros dos mais diferentes géneros e começou por atingir os tops de vendas nacionais com Arquipélago (romance, 2015) e A Vida no Campo (diário, 2016), ambos igualmente bem acolhidos pela crítica. O seu mais recente romance, Meridiano 28, foi editado na Primavera de 2018, com a chancela da Cultura Editora, e não tardou a destacar-se também crítica e comercialmente.
«Será difícil, e talvez inútil, rotulá-lo quanto à sua filiação literária, tanto nos Açores como no continente», escreveu João de Melo, autor de Gente Feliz Com Lágrimas e O Meu Mundo Não É Deste Reino. «A única evidência, e sobretudo a mais natural, é a da sua pertença à grande literatura portuguesa. Ponto final.»
Joel Neto nasceu na ilha Terceira, nos Açores, e mudou-se para Lisboa aos 18 anos, para estudar Relações Internacionais no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas. Depois de década e meia de trabalho como repórter, editor e chefe de redação na maior parte dos grandes jornais e revistas portugueses, voltou à ilha natal em 2012, determinado a dedicar-se inteiramente à literatura.
Vive desde então no lugar dos Dois Caminhos, freguesia da Terra Chã, na companhia da mulher, a tradutora Catarina Ferreira de Almeida, e dos dois cães. Aí, tem uma horta, um pomar, um jardim de azáleas e toda uma panóplia de vizinhos de modos simples e vocação filosófica.
Colunista de alguns dos principais jornais nacionais, nomeadamente Diário de Notícias e O Jogo, publica regularmente em revistas e antologias literárias portuguesas e estrangeiras. Tem livros e contos traduzidos e/ou publicados em países como Reino Unido, Espanha, Itália, Polónia, Brasil ou Japão. O seu diário, A Vida no Campo, foi adaptado ao teatro pela Companhia Narrativensaio, num espectáculo que percorreu o país.
Modos de Vida
Portanto, quanto aos modos de vida, conserva um pé dentro e outro fora. Deixa-te fascinar pelas identidades e pelas tradições — pelas histórias que contam, pela História de que são mensageiras. Mas não te esqueças de conservar um pé dentro e outro fora.
Aprende a ser visitante na tua terra como a fazer-te de casa em terra alheia. Cultiva o choque e o contraste, os cambiantes e as camadas.
Mas não abandones o teu lugar – não te deixes puxar para baixo até um ponto que te embruteça nem suficientemente para cima até teres de representar um papel.
Sobretudo isso: enquanto puderes, ignora os arquétipos e aquilo que julgas esperarem de ti. Rejeita as unanimidades, as ideias definitivas, as equipas. E, quando te achares absorto de indignação, procura descer um grau para a perplexidade.
A perplexidade é o gesto mais negligenciado deste tempo. Não construas sistemas filosóficos em torno da tua perplexidade. Aprende a surpreender-te.
Aprende a amar a perplexidade.
E conserva um pé dentro e outro fora – sempre um pé dentro e outro fora. Não procures pertencer ao que não pertences. Não te envergonhes daquilo a que já pertenceste. Arrepende-te e tenta de novo.
Soma hipóteses, em vez de as excluíres. Deixa-te maravilhar com a simples possibilidade. E – muito importante – proíbe-te de gostar e não gostar.
Não elimines porque não gostas nem chames os acrobatas porque gostas. É o grau zero do pensamento, este nosso gostar e não gostar de hoje. Deixa-te impressionar por aquilo de que não gostas – encantador será poderes começar a gostar disso também.
Não sejas cínico: sê múltiplo. Aprende a povoar-te. Evita os absolutos. Ama o que puderes.
Faças o que fizeres, e quanto aos modos de vida, conserva um pé dentro e outro fora – e fá-lo tanto se viveres no campo como se viveres na cidade.
Joel Neto, in ‘A Vida no Campo’