Do outro lado do horizonte, o sol punha-se calmamente, enquanto deixava a noite tomar o seu lugar. Estava cansada, então, os meus passos eram lentos e a rua fazia-se parecer mais longa do que era realmente. A noite trazia consigo o vento forte e o meu corpo tremia por vontade própria. As minhas mãos esfregavam os braços sobre o casaco, na tentativa de os aquecer, mas era em vão.
Soltei, enfim, um suspiro de alívio, quando fui abraçada pelo calor da cafetaria e a barriga roncou baixinho, depois de ver as montras cheias de bolos apetitosos.
Escolhi sentar-me longe, no fundo do estabelecimento, porque passar despercebida era o meu passatempo favorito, logo após ler. Carregava sempre um livro debaixo do braço, pois, qualquer pequeno espaço livre era perfeito para me perder entre as imensas palavras e adjetivos, que formavam um mundo paralelo, estranhamente perfeito aos meus olhos.
Mesmo assim, chamaram por mim. Era alto, magro e bem vestido. Os seus cabelos eram claros e os olhos negros, estranhamente negros. Não sei quanto tempo estive a apreciá-los, porque me fizeram perder quaisquer noções de tempo e espaço. Pareciam buracos negros; lentamente e sorrateiramente sugando-me a alma e, quando aquele rapaz sorriu, eu senti que a última gota de sanidade dentro de mim tinha sido sugada.
Sabia o meu nome e perguntou se podia sentar-se. Não respondi, porque me sentia estranhamente sobrecarregada com a sua presença e ele sentou-se de qualquer maneira.
Os nossos pedidos chegaram e eu perguntava-me como é que ele sabia exatamente o que eu queria. Era possível que me lesse a mente? Não, que parvoíce a minha.
Perguntei quem ele era e respondeu-me que já havia lido aquele livro, disse que não queria causar transtornos nem ser um spoiler. Por isso, apenas ia comentar que o final o deixou emocionado, mesmo que não fosse capaz de chorar. A sua voz pareceu-me familiar, mesmo sabendo que nunca o tinha ouvido. Era grossa e vibrava em tons cativantes.
– Também gostas de ler?
A sua resposta não veio imediatamente, pois a sua primeira reação foi, finalmente, desviar o olhar de mim e encarar a mesa, enquanto sorria quase que ironicamente.
– Pergunto-me como reagirias, quando eu respondesse que sim a essa pergunta, mas se soubesses quem realmente sou!…
– Quem és? – Agora era eu quem não queria desviar o olhar dele, porque me intrigava. Enquanto aguardava alguma resposta ou alguma dica, a minha mão estendeu-se timidamente para pegar num guardanapo, tinha fome. No entanto, como se ele previsse os meus movimentos, ele estendeu a sua.
Os seus dedos longos e finos tocaram os meus e eu pude sentir o quão quente ele era. Olhei-o nos olhos.
O rapaz misterioso levantou-se e asas de anjo saíram das suas costas. A minha boca abriu-se. Estaria a sonhar?
Como se aquilo fosse algo natural do seu dia-dia, começou por quebrar pescoços. Depois, com um garfo, espetou-os nas carnes humanas como se estivesse pronto para as comer. Gritos preenchiam a cafetaria e era tanto o medo que eu quase conseguia tocá-lo. Em questão de segundos, o chão ficou virou vermelho devido ao sangue e toda a gente estava morta menos eu. Um sussurro no meu ouvido disse: “Sou o diabo”.
Tudo estava normal. Eu ainda estava com a mão no guardanapo e a sua ainda estava sobre a minha. As pessoas ainda falavam ao fundo e a máquina do café ainda fazia barulho, sempre que um era tirado. Ele sorriu e uma lágrima escorreu solitária pela minha bochecha.
– Na realidade, eu não sou assim, isso é o que fazem de mim…
Beatriz Santos 11.º D
Com uma faca na mão, uma poça de sangue à sua volta e um corpo estendido no chão, Lídia para e questiona as suas ações pensando para si mesma:
– O que é isto? O que é que eu fiz? Não posso ter sido eu!
Entretanto, a porta da cozinha abre e por ela passa uma figura alta e sinistra. Lídia olha-o de cima a baixo, reparando nos seus sedosos cabelos, nos seus brilhantes olhos vermelhos, no seu tronco musculoso, elegantemente vestido com um fato também vermelho. Porém, não pôde deixar de reparar na cauda que abanava freneticamente atrás de si.
– Ora! Que beleza divina! Não te assustes, mas eu já te conheço! Com que então finalmente fizeste o que sempre tentei induzir-te a fazer!? Confesso que estou orgulhoso.
Lídia, estranhamente calma, larga a faca ensanguentada e entra num estado de transe, como se estivesse possuída e diz:
– Não tenho medo! Mas sinto uma alarmante vontade de matar! Quero sangue!
– Não te preocupes; eu ajudo-te! Eu tenho esse poder sobre as pessoas! Um tormento infernal, acredita!
Estava uma tarde solarenga. Um casal que passeava por verdes e estonteantes jardins, sorrindo e gargalhando. De repente, Lídia começa a sentir-se estranha e a sangrar gravemente do nariz. O marido, Manuel, decide levá-la para casa.
Já em casa, Lídia passa o resto da tarde a dormir, a descansar e Manuel cuida dela. Escureceu. Enquanto a noite descia, Lídia ficava cada vez mais estranha e irreconhecível. Enquanto dormiam, Lídia, aparentemente, tem um pesadelo e acorda com os olhos em sangue e completamente negros, sem qualquer brilho de humanidade. Vai à cozinha, abre a gaveta e tira uma faca; dirige-se novamente ao quarto, onde Manuel dormia descansadamente. Sem hesitar, Lídia espeta-lhe uma faca no centro do tronco, descendo rapidamente, abrindo o corpo de Manuel a meio.
– Foi um sinal. Eu enviei-te para casa e dei-te o que lá no fundo sempre soubeste que querias: essa vontade de matar! Na verdade, não fui eu quem ta deu. Tu sempre foste assim, eu só te desvendei.
Lídia, surpreendida e chocada, diz:
– Sinto-me eu mesma! Vamos?
– Onde?- disse a tal figura sinistra.
– Para onde quiseres, desde que haja pessoas, e muitas pessoas a quem possamos tirar as miseráveis vidas- disse Lídia.
Neste momento, Lídia tem um impulso e pega na faca novamente do chão e espeta-a na figura alta e sinistra. A vontade de matar era incontrolável.
Depois de o matar, Lídia acorda do transe e olha à sua volta, apenas vendo sangue e dois corpos no chão. Na verdade, um deles era o seu marido Manuel e o outro era um vizinho que lá tinha ido pedir ajuda. Lídia observa o cenário e chora desesperadamente, pensando que tinham sido assaltados ou que um criminoso qualquer os tinha deixado ali.
Lídia matara-os; porém, não se lembrava de absolutamente nada. Era tudo negro, solitário, assustador. Mal ela sabia que ela própria tinha feito aquilo e que o ia fazer, provavelmente, muitas mais vezes.
Afinal, o diabo está dentro dela, é ela, mesmo que ela nunca saiba e nem se aperceba.
FIM!
Trabalho realizado por:
Lara Pereira nº13, Eduarda Rocha nº15, Nádia Soraia nº16 11.º D
O sol tinha desaparecido e eu, na minha inocência, pensei que apenas fosse de madrugada…
O tempo passava e cada vez parecia mais estranho não haver luz na praia, numa manhã de junho. Caminhei um pouco para sul; talvez ainda fosse cedo demais e não ter noção das horas era algo completamente normal para uma adolescente no verão.
De repente, vejo uma forte luz a aparecer. Não era uma luz de um bonito nascer do sol, era uma daquelas luzes que vemos num filme de terror. Caminhei mais uns cem metros, a luz começou a queimar-me ligeiramente os braços e então resolvi parar. Parei numa rocha preta e olhei para o mar.
Poucos minutos passaram até que vejo algo a mover-se até mim. Uma figura estranha, com uns grandes chifres, pele vermelha, uma cauda brilhante e um olhar enigmático caminhava sobre o mar. Levantei-me automaticamente. Olhei para ela com um olhar assustado, hoje arrependo-me desse olhar…
A figura misteriosa aproxima-se de mim e pergunta-me se sei onde estou. Instantaneamente respondi que sim. Se havia pessoa que conhecia aquela praia, com certeza era eu. Ela soltou um riso irónico e disse-me que talvez eu não estivesse onde imaginava. Fiquei arrepiada com aquelas palavras e perguntei-lhe, então, onde estava. Desatei a correr de olhos fechados, com todas as forças que tinha, para o lado oposto daquele sítio, que eu imaginava ser a praia, quando ela me disse que era o Diabo e que eu estava na entrada do Inferno.
Poucos minutos depois, abri os olhos, na esperança de tudo aquilo ter sido um pesadelo e de a minha mãe estar a gritar comigo para eu sair da cama. Nunca imaginei querer tanto a minha mãe a gritar comigo, como naquele segundo. No entanto, quando os abri, vi o Diabo à minha frente, outra vez. Questionei-me como é que ele conseguira ir para ali tão rápido, mas essa não era a coisa que mais me preocupava no momento. Preocupava-me o facto de, aparentemente, estar no Inferno.
Depois de respirar fundo várias vezes e de aceitar o que me estava a acontecer, resolvi que o mais sensato a fazer era descobrir por que razão eu estava ali. Afinal, não é todos os dias que damos de caras com o Diabo, à entrada do Inferno.
Sentei-me numa cadeira de madeira antiga, era igualzinha às cadeiras do tempo dos meus avós, aquelas que eles me mostravam em fotografias. O Diabo sentou-se numa outra à minha frente. Entre nós existia uma pequena mesa, que noutras circunstâncias poderia ter sido utilizada para um belo jogo de cartas ou para uma partida de xadrez. Tudo estava já preparado para uma conversa destinada a acontecer.
Olhei o Diabo nos olhos. Ele já estava a olhar para mim. Foi neste momento que lhe fiz todas as perguntas que me passaram pela cabeça. Perguntei-lhe o motivo pelo qual estava ali e por que razão tudo parecia tão igual ao mundo na terra, tirando a ausência da luz do sol e a presença de uma luz macabra. Pela primeira vez, o Diabo esboçou um sorriso sincero. Pareceu-me estranho, mas limitei-me a ouvi-lo.
Bem… Não tinha um relógio para ver as horas, nem o sol para saber quanto tempo a minha conversa com o Diabo tinha durado, mas com certeza foram umas boas longas horas. Sobre o que falamos? Sobre tudo e mais alguma coisa. Assuntos normais entre o Diabo e uma adolescente. Deus me livre de os contar.
No entanto, creio que o Diabo gostaria que vos desse uma palavrinha por ele. Primeiramente, posso dizer-vos que ele prefere ser tratado por “Diabinho”, pois considera o nome “Diabo” bastante agressivo. Ele disse-me até que já tinha tentado ir à Conservatória trocar o nome, mas não o deixaram entrar devido ao seu aspeto. Adiante, fez-me uma visita guiada ao Inferno, com a qual eu fiquei impressionadíssima: não imaginamos todos os recursos que tem. Explicou-me as razões daquelas pessoas específicas estarem lá, eu compreendi e até concordei completamente.
Afinal, o Diabo só quis que eu lá fosse porque se estava a sentir bastante sozinho ultimamente.
Antes de me poder despedir do meu novo amigo Diabo, comecei a ouvir a minha mãe a gritar para eu sair da cama. Naquele momento senti um misto de sentimentos, um alívio por não ter de dizer à minha mãe que fui conhecer o Inferno, nem que começava a ter uma saudadezita do meu encontro com o Diabo.
Inês Rodrigues, nº9, 11º D
Estávamos em 1980, numa vila de lenhadores, no Canadá. Um lugar calmo onde os habitantes viviam pacificamente. Porém, havia um grupo de jovens que era mauzinho e gostava de fazer muitas travessuras.
Uma menina chamada Elizabeth vivia nesta vila. Era alta, tinha cabelos loiros e olhos azuis, vestia roupas escuras e trazia consigo um casaco de peles de animais para se proteger do frio. Com dezasseis anos tinha poucos amigos, mas desses poucos, todos eram verdadeiros, por isso andavam sempre juntos. Ela era um dos elementos do grupo de jovens que pregava partidas de mau gosto aos habitantes.
Um dia, enquanto dormia, teve um pesadelo. Sonhou que estava num lugar completamente diferente do que habitava e numa época que não era a sua. Existia lá um edifício enorme com vários jovens da sua idade, parecia uma escola, mas diferente das que costuma ver no seu dia-a-dia. Viu também veículos esquisitos, que pareciam carroças, mas não havia bois para os puxar. Elizabeth estava assustada e confusa, nunca tinha visto algo assim.
Entretanto, acordou. Passou o dia todo a pensar naquilo, notava-se que estava transtornada e os seus amigos repararam que ela não estava bem. Decidiram ir para as montanhas brincar na neve, mas o inevitável aconteceu: a montanha começou a tremer e, quando olharam para cima, já era tarde demais. Era uma avalanche, tentaram fugir, mas não conseguiram. Elizabeth e os seus amigos morreram ali, enterrados vivos pela força da natureza.
Os anos passaram. Estávamos em 2020, Maria, uma menina com dezasseis anos, tinha olhos azuis, cabelos loiros e vivia em Portugal, um país localizado no sudoeste da Europa. Frequentava uma escola no norte de Portugal, mais precisamente no Porto. Era uma menina sociável, no entanto, andava sempre com um pequeno grupo de amigos, aqueles em quem ela mais confiava.
Um dia, à tarde, depois da escola, estava sozinha à espera dos pais para ir para casa. Tinha uma vestimenta elegante, as pessoas olhavam sempre que passavam por ela, de facto, não passava despercebida. Enquanto Maria esperava pelos pais, começou a ter alucinações sobre a sua escola, como se, por algum motivo, já tivesse sonhado com ela em tempos passados. De repente, parou de ter aquela alucinação, provavelmente estava cansada. Olhou para o outro lado da rua e viu uma das suas amigas a passar, o nome dela era Elizabete e, nesse momento, surgiu outra alucinação. Desta vez, parecia que estava numa vila antiga de lenhadores. Maria viu um grupo de jovens da sua idade a brincar na neve, à beira de uma montanha. Enquanto os observava, reparou num pormenor que lhe chamou a atenção. Naquele grupo de jovens, havia uma menina igualzinha a ela, olhos azuis e cabelos loiros, no entanto, ouviu chamar Elizabeth. Por um breve momento, Maria ficou assustada e confusa, mas provavelmente era só uma coincidência. Subitamente, sente o chão a tremer, quando olha para o grupo de jovens, vê uma avalanche a enterrá-los vivos. Aterrorizada, Maria consegue parar aquelas alucinações e volta ao normal.
Apavorada com aquela situação, começou a caminhar para ver se aquilo lhe saía do pensamento, mas ela não conseguia tirar aquela imagem da sua cabeça. Sentia-se horrível com o que tinha acabado de presenciar. Maria continuava a caminhar pelo passeio, olhou para a estrada e reparou num carro que estava a andar lentamente ao seu lado. Lá dentro ia alguém a olhá-la fixamente, com um olhar malvado. Assustada, começou a caminhar mais depressa, mas o carro ia ao seu lado a acompanhá-la. Maria começou a correr, virou numa rua à direita e deparou-se com duas ruas, uma delas não tinha saída. O carro continuava a segui-la. Desesperada, atravessou a rua, para se dirigir à rua que tinha saída, apareceu uma carrinha que a atropelou e a deixou inconsciente.
Quando acordou, reparou que não estava num hospital e sim num local diabólico que não conseguia descrever de tão aterrorizada que estava. Levanta-se da cama e apercebe-se que tinha uma silhueta no fundo do quarto. Esta começa a desaparecer e, na única fonte de luz que existia naquele lugar, aparece um homem. Maria olha para ele, começa a afastar-se, nota que é o mesmo homem que estava no carro a persegui-la. Ela tenta fugir, mas não havia saída. Voltou-se para ele e viu que tinha desaparecido, olhou para trás e viu-o, ali mesmo atrás dela. Maria recuou, de repente, a pele do homem começa a desfazer-se e, por debaixo dela, encontra-se uma criatura inimaginável, nunca antes vista por Maria: era alto, tinha dois chifres, uma cauda, um sorriso rasgado com dentes muito afiados e asas de anjo, mas aquilo não era um anjo, as suas asas eram pretas. Maria não conseguia acreditar naquilo que estava à sua frente, completamente apavorada, perguntou:
– Qu… Quem és tu? E… e onde estou?
Ao que ele responde, com uma voz grave e aterrorizadora:
– Quem sou eu? Hm… Provavelmente, devias saber quem eu sou, mas eu conto-te na mesma. Sou o Diabo e o sítio em que te encontras é o Purgatório. O local onde serás castigada pelos teus pecados cometidos no passado.
– No passado? Mas que passado? Eu não fiz nada de mal!- exclamou Maria.
– Tens a certeza? Pensa bem… Devias ter perguntado quem és tu de verdade, para perceberes que não passas de uma encarnação, que tudo foi um sonho, uma alucinação provocada por este local. É para isso que o Purgatório serve. Pagar pelos pecados que cometeste no passado e, assim, fazer-te sofrer para o resto da tua vida, Elizabeth.
Diana Guimarães, Fabiana Guedes, Inês Ribeiro 11ºD
Quando me encontrei com o Diabo, não vi nenhuma figura, como costuma ser descrita. Apenas vi uma figura preta no meio da noite, na minha casa.
– Por que é que não apareces?- disse eu.
– Porque, na Terra, eu não posso aparecer como apareço no Inferno, por isso, esta é a minha única forma de provocar medo.- disse o Diabo.
– Então, tu pretendes ter aliados a partir do medo?- repliquei. Na verdade, eu não conseguia vê-lo e essa deve ser a causa para conseguir falar tão fluentemente e não sentir medo.
– Claro. É a partir de algo de que todos querem fugir que conseguem aproximar-se do mal!- replicou ele.
– Então, deixa ver se percebi, o medo de que todos querem fugir é mau.- reforcei.
– Certamente, o medo é o primeiro passo para as pessoas chegarem mais perto de mim. Por exemplo, uma criança, quando é afastado dos pais, fica dominada pela raiva e pelo ódio, que dura a vida inteira, pelas pessoas que a afastaram dos pais.- disse o Diabo.
– Mas, se isso não for assim, todos são diferentes, não é possível outra forma?- inquiri eu.
– Se não for assim, é com outras histórias, outros contextos, mas, no fundo, todos os sentimentos maus, estão na origem do medo!- disse ele.
– Muito bem, que assim seja!- disse eu.
Inês Mota 11.º D
Celeste e Dante choram. Joãozinho está deitado no caixão, psicologicamente noutro mundo, vagueia por um caminho sem fim. Verifica que está sem roupas e esfomeado, sente com um calor arrasador, até que avista um reflexo ao longe, ele aproxima-se…
Um homem, igualmente nu, segurava um espelho na mão. Joãozinho aproxima-se e questiona-o sobre onde está e o que fazem ali. Tranquilamente, ele responde que estão no inferno e que o seu desejo foi ter um espelho. Logo a seguir, Joãozinho desata a correr já que o tomou por maluco e continuou a seguir o caminho.
Pouco depois, distraído, pisa um monte de dinheiro. Olhando para o lado, encontra uma mulher, charmosa e elegante, virada de costas, chorando. O pobre rapaz junta-se à mulher e pergunta o que se passava, pensando que podia, finalmente, saber o que estava a acontecer com a sua vida; contudo, a mulher não falava, paralisada olhava para o nada. Com as notas no bolso, Joãozinho começa a ficar preocupado; faz tudo para ter a atenção da senhora; até que ela solta as suas primeiras palavras: “não há como sair daqui, estamos no inferno”. O jovem, sem entender o que se passava, pergunta-lhe a razão de ela ter afirmado tal coisa. A mulher responde que, brevemente, algo monstruoso, vermelho e com chifres, conhecido como diabo, irá ter com ele, podendo Joãozinho pedir um desejo. Influenciada pela ganância, a dama escolheu ter todo dinheiro que o diabo podia oferecer.
De repente, o corpo do rapaz é arrastado pelas forças do mal para o meio do caminho; o Diabo aparece oferecendo um desejo. Desesperadamente, Joãozinho pede para sair dali, afirmando que não merece estar naquele torturante sítio. O diabo recusa-se, julgando o jovem pelo mal que causou na Terra, acusando-o de roubo. Justificando-se, o pobre rapaz, garante que roubava para poder ajudar a família, pois vivia numa casa pequena e passavam fome. Por isso, queria, em primeiro lugar, ajudar os pais que sempre fizeram tudo por ele. O Diabo, comovido, torna-se piedoso e aceita o desejo de Joãozinho. Assim, ele volta à Terra, de mente e corpo, e acorda no caixão. Abre os olhos, vê os seus pais, desesperados a chorar, e logo se levanta, confortando-os.
Daquele modo, Joãozinho torna-se o primeiro homem a sair do inferno e a voltar à vida.
Carlos Ferreira 11.º D
UM ENCONTRO COM O DIABO
O literato e guarda-livros Emil Corian encontrou-se com o Diabo na noite de 14 de agosto de 1939. Não foi desagradável o colóquio entre ambos. Trocaram impressões sobre o tempo, futebol, política, mulheres e comida. Exatamente como fariam dois amigos de longa data, ou dois desconhecidos que se tivessem interessado um pelo outro, por mero acaso, num balcão de taberna.
A dada altura Corian admirou-se muito.
‒ Mas então o Diabo é isto? Perdoe. Não fazia ideia de que fosse alguém como o senhor!
O Diabo não se ralou.
‒ Tenho sido sucessivamente diabolizado. Acredite, meu caro: não sou pior do que qualquer um de vós.
Falaram de Fausto. Uma patranha! De D. Juan. Outra peta! Das tentações dos santos eremitas. Uma parvidade, à conta da carestia de proteínas e de estimulação sexual! Falaram da genesíaca contenda entre anjos bons e anjos maus. Pura iconografia, arte, ignorância!
De modo que no final da noite, Corian não teve dúvidas em considerar-se feliz por esta intimidade com o Príncipe das Trevas. Gostava especialmente do modo como ambos aligeiravam os assuntos e arrumavam copos de aguardente.
‒ Mas, e desculpe que lhe pergunte, o que veio cá fazer?
O Diabo, no que aliás se mostrou bastante jovial, explicou-o, começando por mostrar um grande cansaço em relação ao mundo e ao ofício que lhe atribuem.
‒ Fujo, meu caro!
‒ Mas foge de quem? Foge de quê?
‒ Fujo da miséria dos homens!
‒ Como assim?
‒ Da vontade de me tornar um facínora!
Não era fácil a sua existência. Tendo nascido da monstruosa imaginação humana, literalmente das imagens que pôde o cérebro humano efabular, em milénios de insaciável perversão, depressa se viu remetido aos cenários mais tortuosos, aos antros mais fétidos, aos covis mais sanguinários, desenhado com toda a espécie de protuberâncias e disformidades (chifres, asas de dragão, cauda em forma de serpente, pés em cunha, dentuça felina), nutrido pelo prodigioso manancial de pesadelos e crendices que a linguagem dos livros aferrolha em criptas bolorentas. Fora trazido de geração em geração até aos dias mais recentes em pérfidas e anódinas expressões de sátira, culto ou exorcismo. Vivia de esmolas (vivera sempre!), da esmola do Mal! Nada tinha contra os homens ou contra Deus. Assistia, com terrível resignação, ao papel que a humanidade lhe reservava, inculpado e culpável, imperdoado e imperdoável, gérmen de guerra, de pestes, de tormentos infinitos. Em suma, um bode expiatório, se alguma vez expiar pôde ou pudesse possuir algum significado!
Emil Corian espantou-se. Com efeito, o Diabo não passava de um fantoche, de um títere na história humana. O Diabo suspirou.
‒ Com efeito, não passo de um bonifrate!
Quis o primeiro demorar-se nisto. Como tinha sido possível tamanha mentira, tanta literatura, tão vasta ficção? O Diabo não sabia.
‒ O fim deste suplício estará a escrever-se agora. Julgo que em menos de um século, o Inferno terá fechado definitivamente as portas.
‒ O Inferno deixará de existir?
‒ Meu caro, o Inferno nunca existiu. Não esse de que querem todos distanciar-se!
‒ Mas, então, e os pecadores?
Era opinião do Diabo que dentro de pouco tempo, Freud ‒ ouvir-se-ia falar de Freud! ‒ havia de fechar com um grande letreiro o Inferno, tal como o concebeu a razão humana, para abrir-lhe portas mais profundas.
O jovem guarda-livros, compreensivelmente, não foi capaz de entendê-lo. O Diabo sorria. O alívio fazia-o sorrir. Corian, por contágio, sorriu também. Não conhecia Freud. O Diabo declarou-lhe as benfeitorias da ciência nova.
Ao sexto copo de aguardente, o Diabo resumiu.
‒ Venho trazer-lhe a prenda de casamento!
‒ Como sabe que vou casar-me?
‒ Meu caro, nada escapa ao Diabo!
‒ Mesmo não passando o Diabo de uma falácia?
‒ As falácias são poderosas!
‒ E porque me presenteia?
‒ Porque nunca acreditou verdadeiramente na minha existência!
‒ Mas se sou ateu!
‒ Por isso mesmo!
‒ Minha futura mulher é judia: rir-se-á desta aventura.
‒ Avizinham-se tempos poucos propícios ao riso…
Corian maravilhou-se que em lugar de querer levar-lhe a alma, o Diabo viesse trazer-lhe um presente.
‒ Não se admire tanto.
‒ Este é um acaso inesquecível!
‒ Brindaremos pela sétima vez. Depois sairei pela mesma porta por onde entrei. Virão ao seu encontro dois indivíduos. Um deles far-lhe-á uma proposta. Recuse-a. Saia sem demora do país. Leve Esther. Decida-se pelo desconhecido!
‒ Fala da América?
‒ Sabe bem que sim!
Corian viu-se sozinho. Sentia-se ébrio e confuso. Uma mão calorosa bateu-lhe nas costas. Era Nicolae Petrescu, assistente do Professor Năstase. Vinha acompanhado de Corneliu Adorjan, um reputado camisa verde. Trazia boas notícias. Corian fora aceite como professor auxiliar no curso de Economia na Universidade de Bucareste. Corian escorropichou o pequeno copo. Sentiu-se estremecer. Sorriu. Não deitaria tudo a perder.
‒ A mim o Diabo não engana.
Aceitou.
LOPES, João Ricardo – O Moscardo e outras histórias, Amarante: Gráfica do Norte, 2018, pp. 17- 21.
Porto, 14 de agosto de 1939
Querido diário,
Cá estou eu! Mais um dia, frustrado com a minha própria existência por mais incrível que seja. Por todos me verem como um monstro, uma coisa horrível, medonha ou até assustadora como alguns me descrevem.
Contudo, hoje, foi diferente, ou então pensei eu que seria. Hoje conheci um literato e guarda-livros, conhecido como Emil Corian, e até nos demos bastante bem: conversamos bastante sobre futebol, política, mulheres e também comida. Parecia que nos conhecíamos há anos, ou pelo menos ao tempo suficiente, para descobrirmos interesses em comum.
Até que certo momento, durante a conversa sobre diversos assuntos e alguns copos de aguardente, eu decidi desabafar, dizer o que me ia na alma. Para ser sincero, até não correu mal, ele pareceu compreender o que eu lhe estava a tentar dizer, o que estava a tentar desabafar. Pois, mas não correu como eu pensava! Apesar de o avisar sobre os perigos que podia correr, ele não acreditou em mim, pensava que eram “coisas do diabo”, como as pessoas costumam dizer.
Enfim, hoje apercebi-me que não passo de um fantoche ou um bode expiatório em que ninguém acredita; um ser criado pela imaginação do ser humano. Esta é uma maldição que tenho de carregar comigo até ao fim dos meus tempos. Pois a vida é assim e eu tenho de aprender a aceitá-la tal como é.
Amanhã é um novo dia para a minha existência e nunca se sabe o que pode acontecer.
Diabo
Nádia Cunha 11.º D
Santarém, 27 de agosto de 1939
Querido Diário,
Sinto-me vazio e desesperado. As pessoas apenas acreditam em lendas e nem se atrevem a aproximar-se de mim. São tudo lendas e mitos. Sim, fui desobediente, desrespeitei o meu pai, mas não criei os monstros, os psicopatas, os assassinos. Tudo o que fiz foi tentar ajudá-los, a esses e todos aos outros que necessitavam de mim e se sentiam perdidos.
Parece que as pessoas, quando olham para mim, veem chifres, caudas, pés de cabra e sangue, muito sangue, mas não é assim que me vejo! Eu não sou assim.!? Sou um ser humano completamente normal.
Com apenas um olhar, consigo perceber que estou a ser julgado e sinto que és o único com quem posso falar.
Se bem que consegui falar com um homem, misterioso, porém, livre, pois não acredita em nenhum dos extremos, nem em Deus, nem no Diabo.
Tentei ajudá-lo, mas não acreditou em mim. Já foi bom falar com alguém, mesmo que não confiasse em mim. Ando calado há muitos anos, não posso continuar a ser um exemplo de manipulação e desejo de matança e vingança. Sou o oposto.
Mais uma vez, recomeço a minha vida, noutro lugar, sempre na tentativa de alguém acreditar no que digo e no que faço. Terei de continuar neste mundo, mas não desistirei de encontrar alguém como eu ou que acredite em mim. Nem que vá até ao fim do Mundo.
Até sempre, o teu desafortunado
Diabo
Lara Pereira 11.º D
Paraíso Tórrido, 13 de um mês qualquer, ano indeterminado
Querido Diário:
O dia está encoberto, vejo as folhas a cair das árvores e a serem levadas lentamente pelo vento para um lugar afastado. Acontecimentos normais, num longo dia de outono.
Na realidade, não tenho a certeza se devia estar a escrever mais uma página da minha vida! Afinal eu sou o Diabo e parece que tenho apenas de assustar, perseguir e aterrorizar pessoas. Escrever e ter um diário talvez seja apenas para os “bons”, ou para aqueles que o fingem ser. Que loucura, o Diabo escrever e ter tempo para ler!!?
Uns dias passaram desde que o temível e assombroso Diabo tentou ajudar alguém. Desculpa, queria dizer manipular. Às vezes, confundo as palavras. Eu sou o Diabo e jamais ajudaria alguém.
Na verdade, creio que estou apenas a fazer um desabafo, a expor num papel os meus sentimentos. Ah! Mas que praga! O Diabo não tem sentimentos. Do que estou eu a falar? Que estupidez.
Mas não te preocupes, o Diabo vai continuar a ser o mesmo. Afinal, ele não pode mudar a opinião de cada um sobre ele. Apenas vai aguardar que, um dia, talvez não muito distante, alguém acredite e conheça a verdadeira essência do Diabo.
Até um dia menos desditoso
Do teu infernal
Diabo
Inês Rodrigues 11.º D
Porto, 15 de agosto de 1939
Caro Diário,
Ontem foi um dia difícil, não que os restantes não o tenham sido, mas este destaca-se.
Sou julgado pelos olhos de quem me vê, associado a tudo o que acontece de mal, sirvo de desculpa para o que está errado e, por isso, sou deixado de lado. À minha figura são associados lendas e mitos que, por sua vez, mantêm as pessoas afastadas e isoladas no medo e na mentira. Eu sei que o meu passado não foi o melhor, Se nem o meu pai era perfeito, então por que motivo teria eu de ser?! Agi da pior maneira ao desobedecer-Lhe. Contudo, o sentimento de que estava a fazer o que estava correto prevaleceu e, por isso, fui enviado para o mundo dos mortais. Já fui como todos os meus irmãos, mas, por alguma razão, as pessoas veem algo fora do comum: chifres curtos, caudas pontiagudas, pés de cabra e uma cor vermelha do mesmo tom que o sangue. Embora estes sejam os seus testemunhos, sou um ser humano como outro qualquer. Toda a minha vida, neste mundo, foi observada, sinto que a qualquer momento estou a ser julgado ou responsabilizado por aquilo que não fiz.
Recentemente conversei com um homem, misterioso e de mente aberta. Este indivíduo não era crente nem em Deus, nem no Diabo. A este homem ofereci ajuda que foi rejeitada, pois o homem não acreditou em mim, como qualquer outro neste mundo.
Hoje traço um limite a tudo isto, estou cansado de ser o dito Diabo – maléfico e dono dos infernos. Só quero que todos me tratem da melhor forma, pois este ser vermelho, que todos temem, não representa o que eu sou. Infelizmente, terei que viver com esta imagem até ao fim dos meus tempos e, portanto, tu serás o único que não me pode julgar, és o meu confidente e por isso estou-te grato.
Do teu infernal e descrente
Diabo
Tiago Pinto
Porto, 13 de outubro de 1939
Querido Diário,
A minha vida não é fácil. Nasci como uma aberração, fruto da imaginação das pessoas. Uma criatura invulgar que preza o mal e, sempre que acontece algum acidente, culpam-me a mim. Como costumam dizer: “É obra do Diabo”.
De facto, sou apenas um fantoche controlado pela mente das pessoas. Aos olhos de muitos sou uma besta, tenho asas de dragão, chifres, cauda de serpente, dentes afiados, pés em cunha; um completo animal à vista dos muitos que acreditam que eu existo. No entanto, sou apenas uma pessoa comum, igual aos outros. Fico frustrado com a mentalidade das pessoas, tão pequena ao ponto de esta fantochada ter sido passada de geração em geração. Sou culpado por tudo: guerras, pestes… e até mesmo remetido aos cenários mais sanguinários e tortuosos.
Definitivamente, a minha existência não é fácil! As pessoas pensam que sou como um bode expiatório. Como se alguma vez expiar os pecados dos outros fosse trazer algo significante para a minha vida! Sou um ser normal e gostaria que me tratassem como tal: sem julgamentos, olhares ou pensarem que lhes vou fazer alguma coisa de mal. Pelo menos, consegui conversar com alguém, com uma única pessoa. No entanto, só o consegui fazer, porque ele não é como os outros. Não acredita em Deus nem no Diabo, por isso, pela primeira vez, consegui conversar como uma pessoa normal! Estive cara a cara, sem pensar que vinha trazer azar à sua vida. Porém, o que é bom dura pouco! Não posso ser visto à frente dos outros que acreditam que eu trago algo de mau à vida deles. Portanto, não posso ficar o tempo que eu quiser.
Infelizmente, a minha vida é assim. Desenhada na mente das pessoas e sendo levada de geração em geração. Quando vão aceitar que sou igual a eles? Duvido que o façam! Uma vez entrada na cabeça das pessoas e passado por diversas gerações, um preconceito, uma imagem nunca vai sair da cabeça deles. Por essa razão, nunca vou ser considerado como um deles. Miseravelmente, tenho que viver e enfrentar este destino que foi traçado até ao final da minha vida.
Do teu inconsolável
Diabo
Inês Ribeiro 11.º D
12.08.1939
Querido diário, sabes…
Não, espera. Isto parece piroso, deixa-me recomeçar.
Como é suposto um diabo escrever um diário? Estou tão habituado a que me vejam como alguém sem sentimentos, alguém mentiroso e sem qualquer tipo de empatia, que, agora, que pretendo escrever como me sinto para demonstrar como eles estão errados, não sei nem como começar, que irónico!
O meu nome já nem parece ter impacto algum, sabes? Roda de boca em boca com uma naturalidade e rudez que eu nunca pensei que alguma vez tivesse.
É até engraçado como os humanos gostam de me culpar por algo negativo! Eu, na realidade, não mexo um dedo, não preciso. Os humanos são egoístas e egocêntricos e isso já chega para que não pensem duas vezes no que falam ou dizem; quando sofrem as consequências, admiram-se. Eu castigo, sou eu realmente o errado na história?
O meu real objetivo é trazer à tona a verdadeira personalidade da pessoa. Que culpa tenho eu, se essa pessoa é impura?
Por que tenho de ter as costas largas e aguentar com as críticas, quando eles é que são os errados? Queria saber como se sentiriam se vivessem na minha pele.
Do teu miserável
Diabo
Beatriz Santos 11.º D
Dia #23
Diário,
Sei que já não escrevo aqui há anos, mas já há algum tempo que acumulo sentimentos e frustrações dentro de mim e hoje decidi libertar algumas delas.
Considero-me um tanto calmo e “clássico”, por vezes, manipulador, claro, mas isso não deveria afetar a veracidade das informações ou profecias que passo às pessoas. Há dias, tentei avisar um homem num bar de um dos eventos mais importantes da história e passei por lunático, um total maluco!
Lá estava eu, com o meu copo de whiskey (como é que alguém é capaz de duvidar de alguém que tem whiskey como bebida de preferência??!), sentado ao balcão, enquanto conversava com o indivíduo. No final, o tal teve a audácia de não acreditar no que eu disse!!! Não foi a primeira vez que algo do género aconteceu e certamente não será a última! Porém, esta estará no topo daquelas que mais me irritaram até agora.
Enfim, um dia tudo vai mudar. Ou eu vou mudar? Por enquanto sigo esta vida de malfeitor e de “o Diabo obrigou-me 🙁 !!!”.
Até à próxima vez, seja ela quando for…
Do miserável Diabo
Eduarda Rocha 11.º D
4 de setembro de 1939
Meu maléfico diário…
Dia 14 de agosto, tentei ajudar um cavalheiro a salvar a sua amada, mas, devido à ideia errada que ele tem sobre mim, não acreditou.
Hoje ele está a combater e irá perder a família e a própria vida na guerra.
Às vezes, só queria que as pessoas me dessem a oportunidade de me dar a conhecer para verem que eu não sou aquele diabo que eles pensam. A única igualdade que eu tenho com esse diabo da imaginação deles são os cornos, os pés de cabra e a minha cauda porque, de resto, eu sou muito diferente.
Eles julgam que eu sou mau, porque foi isso que lhes ensinaram, mas isso não corresponde à verdade. Na realidade, eu creio que, por vezes, sou melhor do que certos humanos, porque não levo ninguém para a guerra para perder a família e a própria vida.
Eu tento sempre ajudar, mas nunca ninguém me dá ouvidos. Só espero que, um dia, eles mudem a sua ideia sobre mim e me vejam tal como eu sou.
Obrigado, por me ouvires maléfico!!
Do teu miserável
Diabo
Fabiana Guedes 11.º D