Comportamento e poder das multidões no século XXI

Eis algumas reflexões dos nossos alunos sobre um tema muito pertinente e sempre atual:

 

Multidões incontroláveis

Sofia Barbosa |10.º A

      Não é novidade para ninguém – nem para os nossos antepassados – que uma multidão enraivecida, eufórica ou em busca de um propósito comum é terrível, imparável. 

      Voltemos atrás no tempo, até à Idade Média, momento no qual se reconheceu, talvez pela primeira vez, a grandiosidade e terribilidade do povo português. A independência de Portugal estava em risco e a liberdade das gentes estava ameaçada – pendiam ambas por um fio. A sua única esperança de garantir estes dois elementos (Mestre de Avis) estava, pensavam eles, em perigo de vida. Recusando-se a abdicar da sua identidade, a perder contra os castelhanos, o povo de Lisboa uniu-se, manifestou, ameaçou. Para pôr fim à fúria e desordem, ofereceu-se à multidão aquilo pelo qual lutavam: D. João I estava vivo. Isto foi o que nos mostrou Fernão Lopes. Todavia, o poder de um alargado aglomerado de pessoas não se mostrou apenas ali, naquele momento, em Portugal. Tem vindo a revelar-se ao longo dos séculos, das gerações, por todo o mundo. 

        A questão é que este poder é usado tanto para o bem como para o mal. 

        Quando as pessoas decidem mudar o mundo, fazer a diferença, então elas vão fazê-lo!

        Este «monstruoso» poder manifestou-se há relativamente pouco tempo. Foi no ano em que o mundo parou, mas o coração das gentes continuou a rugir em nome da justiça. George Floyd, um homem negro, acabara de ser morto por um polícia branco, após ter roubado um item numa loja. Contudo, o polícia não foi condenado por ter roubado a vida de George. Assim, por todo o mundo, pessoas enraivecidas fizeram-se ouvir, em busca da justiça. A verdade é que, após um mês de lutas constantes e longas manifestações, a rebelião pacificou-se. O agente foi preso e George Floyd foi vingado. 

       No entanto, como já foi mencionado, as multidões podem causar numerosos danos. Era janeiro de 2019, em Paris, e eu e a minha família estávamos a contemplar a célebre capital. As ruas estavam inundadas por polícias que revistaram mochilas, turistas, locais. O motivo de tal inquietação era descortinável. Trabalhadores revoltados haviam saído à rua na noite anterior para manifestarem o seu descontentamento. Podiam observar-se ainda vestígios da sua ira: objetos queimados, lixo, montras partidas, monumentos vandalizados. Pelo que lutavam não me recordo, mas tenho a certeza de que se fizeram ouvir. 

        Conclui-se, assim, que, de facto, multidões motivadas podem voltar o mundo de cabeça para baixo e ninguém fará nada acerca disso, pois pará-las é impossível. O mais surpreendente é que, sem sombra de dúvidas, este poder não lhes é desconhecido. As pessoas sabem que o possuem e não têm medo de o aplicar. O problema é que, tal como os ventos de Éolo, uma vez libertada, essa força é praticamente incontrolável. 

 

O poder das multidões

Íris Ferreira |10.º A

     Tal como se pode ler nas páginas escritas por Fernão Lopes, o povo é ainda o grupo mais poderoso e capaz de fazer mudanças quando se une.

    Do meu ponto de vista, o espírito coletivo pode ser símbolo de grandeza, mas também de terribilidade. Quando agimos em grupo, o nosso comportamento é totalmente diferente daquele que temos quando estamos ou agimos sozinhos. Em grupo, temos tendência para sermos mais corajosos, impulsivos, vingativos e cruéis.

    Quando levada por um bom motivo ou ideal, uma multidão consegue coisas grandiosas, como defender um país ou conquistar e manter a sua independência. Um exemplo é o do povo ucraniano que lutou e contínua a lutar pelo seu país, pela sua independência e pela sua nacionalidade, juntos como um só e com o mesmo objetivo. Infelizmente, nem tudo é bom e grandioso e as pessoas também se unem por más razões, como é o caso dos terroristas, que se juntam para matarem pessoas e espalharem o caos. Estes, infelizmente, são cada vez mais e agem de maneira mais frequente, o que poderá mostrar que a sociedade está a caminhar para algo muito negativo. A violência tornou-se banal e o ódio está presente todos os dias.

    Em suma, o poder da alma coletiva pode ser positivo ou negativo, sem espaço para meios-termos. No que toca à influência das multidões, só existem duas cores: preto ou branco, sem espaço para cinzentos.

 

Multidões: heroínas ou vilãs?

Soraia Ferreira |10.ºA

    O primeiro grande prosador português, Fernão Lopes, ficou conhecido pela sua escrita extraordinária, mas também por dar destaque ao povo. O cronista ilustrou perfeitamente o ganho de consciência coletiva, pelo que nos fez perceber que, enquanto seres individuais, o nosso comportamento é bastante diferente do que assumimos enquanto grupo, isto até os dias de hoje.

    Na minha opinião, as multidões do século XXI (e também de outros séculos) apresentam um poder inexplicável, que tanto pode ser usado para o bem como para o mal. Esta afirmação é baseada na existência de protestos (como exemplo). Considero emocionante a união que pode existir num grupo de pessoas completamente diferentes, porém, com algo em comum: a vontade de lutar por um direito que acredita ser seu ou até de outro.

    Por outro lado, e como já foi mencionado anteriormente, este grandioso poder pode, também, ser usado para o mal, como é o caso do bullying. Acompanho várias situações onde a vítima fica tão esgotada psicologicamente que chega ao ponto de tirar a própria vida. Não é arrepiante? Um conjunto de seres humanos fazer um outro ser humano perder a vontade de viver?! Isto faz-nos chegar à tal situação do nosso comportamento em grupo. Parando para pensar, o bullying é, normalmente, praticado por um conjunto, atacando um único indivíduo. Deste modo, o conjunto sente-se mais poderoso por ser, precisamente, um conjunto. E esta lógica repete-se, quer a motivação seja boa quer seja má.

   Assim, confirmo que, de facto, é impressionante o comportamento e poder das multidões, mas que este poder deveria ser utilizado, exclusivamente, para praticar o bem.

 

A multidão por trás da mudança

Carlota Prazeres | 10.ºC

    A importância do comportamento e do poder das multidões foi e será sempre valorizada, tanto pela sua influência positiva como negativa. Quando pensamos em multidões, vem-nos à cabeça, na maior parte das vezes, as consequências negativas que elas provocam. Mas nem sempre é assim.

  Em primeiro lugar, temos, como uma ótima referência do poder das multidões, os protestos. Quer seja pelas ruas de uma cidade ou pela vasta Internet, os protestos demonstram ter uma grande influência no público em geral e nos governos em particular. Isto pode dar-se devido ao elevado número de participantes ou, talvez, à sua motivação. No entanto, não se pode negar que tocam a opinião pública de uma forma decisiva. Existem vários exemplos de protestos que conseguiram, ou pelo menos, chegaram mais perto de alcançar o seu objetivo. Aqui, é explícita a importância da organização e do comportamento coletivo, quando a população se junta por uma causa na qual acredita. Exemplos recentes disso são os protestos que têm acontecido no Irão para combater a polícia da moralidade, e os protestos que foram e vão acontecendo na América Latina pela legalização do aborto.

   Para além disso, o comportamento coletivo é extremamente importante em tudo o que nos rodeia. Exemplo disso é a ajuda coletiva entre as pessoas, visível no trabalho de muitas associações, que são também um ponto de referência do comportamento das multidões do século XXI. Quer seja nas instituições de ajuda aos animais, ao ambiente, aos idosos, o facto de muitas funcionarem à custa de voluntariado demonstra a ação coletiva levada a cabo pela população.

   Finalmente, apesar de haver muita influência negativa propagada pelas multidões, penso que é importante realçar as consequências positivas que pessoas juntas por uma causa que as apaixona conseguem conquistar.

 

O poder das multidões

Mariana Oliveira | 10.ºC

    Com o passar dos séculos, o comportamento e poder das multidões mudou bastante, no entanto, nem todos os atos assumidos são negativos.

    Atualmente, no século XXI, a população dá a entender que, numa situação difícil, é cada um por si. Estamos unidos durante um jogo da seleção, tendo esperança de que a nossa pátria vencerá, mas, depois da derrota, a culpa é dos jogadores e da sua falta de esforço. Em tempos de crise, as pessoas enlouquecem, gastam demasiado dinheiro em coisas que não são necessárias em grande quantidade, não deixando nada para quem realmente precisa. Numa situação de violência, consideram que o mais certo é filmar, em vez de intervir. Estas ações levam-nos a crer que a sociedade está perdida. Porém, não está!

   Se viajarmos um pouco para o passado, conseguiremos lembrar-nos de diversos movimentos que fizeram total diferença na comunidade atual. Entre os mais variados atos, gostaria de destacar o movimento das sufragistas. Mulheres que nada tinham, mas que se juntaram e tornaram possível o direito ao voto para todos cidadãos, sem exceção. A conquista do voto mostra a todos que somos iguais, porque somos seres humanos.

   Temos também exemplos mais recentes de adolescentes que lutam pelo bem-estar ambiental do nosso planeta, que é um assunto de extrema importância. Foram feitas manifestações e sensibilizações em prol do nosso mundo, da nossa casa. Essas pessoas uniram-se e fizeram, mesmo que mínima, a diferença na comunidade.

    Considero que o principal elemento de uma sociedade são as pessoas e, se essas pessoas almejarem um objetivo que contribua para o bem comum, podem fazer grandes coisas. Com isto, também quero dizer que devemos ter respeito e empatia pelo outro, para assim, possuirmos uma força coletiva inabalável e honrarmos aqueles que tanto lutam.

 

A força do «Todo»

Beatriz Duro | 10ºC

   Não é de agora o uso da expressão «A união faz a força»! Bem sabemos que assim é. Tal como antigamente o povo se juntava em torno de um objetivo comum, na atualidade também são múltiplas as situações em que isso acontece.

    Como em todas as ocasiões da nossa vida, há sempre vários lados para analisar a mesma situação e, por conseguinte, distintas opiniões vão surgindo. Desde sempre que partilhar com um grupo as mesmas perspetivas e valores nos traz algum conforto. Faz-nos sentir que não estamos sozinhos. Esse sentimento de pertença, que tanto nos agrada, é o que origina a satisfação de estarmos em grupo.

    Havendo, para tudo, o lado mais positivo e o lado mais negativo, este tema não podia ser exceção. São vários os exemplos concretos de situações benéficas que resultaram de uma atividade com um fim coletivo: a conquista dos direitos das mulheres, a luta para travar os avanços das alterações climáticas, as associações de caridade ou até um tema recorrente nos últimos tempos: a união do povo ucraniano frente aos ataques russos. Contudo, são do nosso conhecimento outras situações mais infelizes. O sentimento de impunidade que está associado ao ato coletivo é um problema bastante atual na sociedade. Ao acharem que, por não terem sido as únicas a errar, não necessitam de responder pelos seus atos, as pessoas têm mais facilmente comportamentos violentos quando atuam em conjunto, como no caso do bullying, por exemplo.

   A moderação e o equilíbrio são o segredo para podermos conviver em paz. Apesar de estarmos em conjunto, devemos lembrar-nos de que cada um tem a sua identidade e que as opiniões dos outros são tão válidas quanto as nossas.

 

Juntos, fazemos a diferença

Sandra Oliveira | 10°C

       Em pleno século XXI, as multidões ainda se mantêm fortes, fazendo-se ouvir.

     Efetivamente, são multidões que se unem, à partida, com o intuito de mudar a mente humana, tornando-a mais progressiva e evoluída. Um exemplo: quando as sufragistas lutaram pelo direito ao voto, em relação às mulheres, foi uma luta diária que nos ajudou a conquistar direitos como a liberdade de expressão e, em parte, mais igualdade.

  Essas movimentações de enorme grandeza apoiam e ajudam a população a autodescobrir-se e a batalhar por aquilo em que acredita. Podem, ainda, promover a união entre países e sociedades em prol da ajuda a outros que estejam a viver um momento difícil, de guerra ou de fome, dando apoio alimentar e social.

       A alma coletiva chega mais além do que indivíduo isolado, motivo pelo qual se juntam multidões para transformar o mundo presente num lugar melhor. São elas que se fazem ouvir e juntas têm voz suficiente para alcançar o objetivo pretendido e o que em si querem modificar. Outro exemplo tem decorrido no Irão, onde um grupo maioritariamente feminino demonstrou apoio a uma mulher que foi condenada à morte. E não foi apenas através das palavras que elas se fizeram ouvir, mas da ação e do exemplo, cortando os cabelos, alcançando assim a atenção das pessoas e dos países. Um movimento solidário que expressou que aquela mulher não estava sozinha, mas rodeada de pessoas para a apoiarem. Deu-se, assim, voz ao meio feminino que ainda hoje é muito desvalorizado e oprimido.

     Concluindo, existem diversos exemplos possíveis para mostrar o quanto uma população unida, a lutar por aquilo que defende, em benefício do próximo, pode ser forte. Da mesma forma, através dos métodos certos, a mensagem pode chegar a milhões de pessoas. A meu ver, com as ações corretas, para fazer o nosso mundo evoluir, essas manifestações coletivas são essenciais, valorizando a ideia de que juntos podemos fazer a diferença.

 

Webgrafia:

https://www.istockphoto.com/pt/foto/acima-vista-da-multid%C3%A3o-de-pessoas-alegre-mostrando-os-polegares-para-cima-gm472475618-64097773