Identidade de género: a MULHER na literatura

Diálogos improváveis entre a Mulher de Ontem e a de Hoje

Inspiradas no tema proposto “Diálogos improváveis entre a Mulher de Ontem e a de Hoje”, decidimos escrever um diálogo entre Carolina Beatriz Ângelo, a primeira mulher votante em Portugal, e duas alunas inquietas com a crescente despreocupação com a política nacional e consequentes elevadas taxas de abstenção juvenis.

Alice – Reparaste na taxa de abstenção das últimas eleições presidenciais?

Cátia – Eu vi, mais de 60%, um absurdo. Foi a maior taxa de abstenção de sempre em eleições presidenciais!

Alice – Honestamente estava à espera de pior, mas o valor acabou por ser muito elevado.

Cátia – A sério que não percebo como é que ainda existem pessoas que defendem que votar “não vale a pena”, pois “vai dar tudo ao mesmo”.

Alice – Mais preocupante ainda é quando são jovens que partilham essa mentalidade. Nestas eleições presidenciais, por exemplo, a grande maioria do grupo que não exerceu o seu direito de voto foram jovens portugueses.

Cátia – Que vergonha. 

Carolina – Se fossem meus netos viam o que era bom para a tosse!

Alice – Ah, quem falou?

Carolina – Carolina Beatriz Ângelo, muito prazer.

Cátia – Quem é a senhora?

Carolina – Médica, republicana e sufragista, não vos diz nada?

Alice – Foi a primeira mulher a exercer o direito ao voto em Portugal!

Cátia – Aproveitando uma falha no texto da lei. A senhora é genial, deixe-me que lhe diga.

Carolina – Teoricamente, não se tratava de uma falha, o código eleitoral da época determinava o direito de voto a “todos os portugueses maiores de 21 anos, residentes em território nacional, que soubessem ler e escrever e fossem chefes de família”, ora eu, em 1911, uma mulher alfabetizada, com os seus 32 anos, com formação superior e, que sendo viúva, me tornava chefe de família, reunia todas as condições necessárias para votar. O problema surgiu pelo facto de ser mulher, a sociedade machista da época não tolerava uma mulher independente, quanto mais uma votante, mas uma vez que a lei não especificava que apenas os cidadãos do sexo masculino tinham capacidade eleitoral, e que eu preenchia todos os outros requisitos legais, nada puderam fazer para me impedir de exercer o meu direito de votante.

Alice – Uma das primeiras grandes vitórias para o feminismo nacional.

Carolina B. A.  – Ora nem mais. Preocupa-me é que a minha batalha tenha sido em vão…

Cátia – Pois, efetivamente o seu esforço não é sequer conhecido por muitos…

Carolina B. A. – Não faço caso de receber nenhum tipo de fama ou troféu pela minha luta, até porque, mais do que uma conquista individual, tratou-se de um triunfo coletivo feminino. O que acho que muitos jovens não percebem, é que para hoje eles terem o privilégio de votar, muitas outras personalidades corajosas tiverem que se impor também. 

Alice – O direito do voto, torna-se, portanto, muito mais do que um direito, trata-se de um dever cívico-social, certo?

Carolina B. A. – Justamente!

Cátia – Eu falo por mim, a política às vezes torna- se um bicho de sete cabeças para os adultos, pudera para a juventude. 

Alice – É verdade, é um assunto tão interessante e importante como complicado, daí para muitos jovens ser um tópico pouco cativante, chegando até a ser maçudo. 

Carolina B. A. – Admito que assim o seja, mas esse desinteresse começa pelo facto de muitos não saberem exatamente, por exemplo, a importância e o poder que o simples ato de votar pode ter. É fundamental sensibilizar e informar os jovens para a importância de participar nos atos de cidadania e valorizar os processos democráticos.

Cátia – Isso é possível?

Carolina B. A. – Claro que sim, podemos começar por criar programas de educação política nas escolas, por exemplo. 

Alice – Uma ótima ideia! A escola não auxilia apenas no desenvolvimento de alunos com competências educacionais para integração no mundo de trabalho, mas também apresenta um papel essencial no processo de formação de cidadãos ativos e socialmente responsáveis.

Cátia – Exato! Já o ministro da educação defendia que a escola é indispensável na criação de “sociedades livres, democráticas e sustentáveis”.

Carolina B. A. – Precisamente. Com estas bases, os jovens percebiam que a política envolve tudo e todos à nossa volta e determina quase tudo o que diz respeito à nossa vida em sociedade.

Alice – Destruímos, também, portanto, o preconceito de a política ser muito distante e inacessível para a maioria, que se encontra somente na mão dos grandes órgãos de poder, dos partidos políticos ou de algumas elites.

Cátia – E enquanto extinguimos o desinteresse geral dos jovens na política, enquanto lhes dávamos igualmente um espaço livre, seguro e acessível para compreenderem e debater o que é afinal a política, e qual o papel dos jovens no cenário político nacional.

Carolina B. A. – Até porque todos os cidadãos devem ter o direito de conhecer o cenário político nacional e tudo o que implica a atuação ativa política para o seu país.

Alice – Desta forma poderíamos diminuir drasticamente a iliteracia política, e, com isso, obter jovens (votantes) mais conscientes e ativos para com a política. Tantas vantagens reunidas num só projeto, incrível!

Alice – Foi um privilégio conhecê-la!

Cátia – Digo o mesmo, tirou-nos esta preocupação de cima!

Carolina B. A. – Ora essa, o prazer foi todo meu, meninas!

 

Alice Baião Nº1, 11ºC

Cátia Santos Nº9, 11ºC

 

Links que nos auxiliaram na escrita deste texto:

https://www.parlamento.pt/Parlamento/Paginas/Carolina-Beatriz-Angelo.aspx

https://www.jn.pt/nacional/e-preciso-agir-urgentemente-junto-dos-jovens-para-combater-abstencao-10950828.html

https://sicnoticias.pt/programas/1525/2020-11-17-1525.-O-desinteresse-na-politica