RECITAL DE POESIA “ENTRE NÓS E AS PALAVRAS”

 

       E há poetas que são artistas”, e há também artistas que são poetas, que trabalham os versos dos outros como se, de facto, tivessem brotado das profundezas do seu próprio ser. Só assim podemos compreender o que se passou no dia 14 de março, no recital de poesia “Entre nós e as palavras”  protagonizado pelo ator Pedro Lamares.

     O auditório grande encheu-se de alunos e alunas do ensino secundário (regular e profissional), jovens e pouco crentes neste tipo de atividades cheias de palavreado rimado! Ainda  por cima, não era pro bono (pagar para sofrer ou aborrecer-se não fazia muito sentido, pelo menos para quem ainda não aprendera o verdadeiro sentido dos versos pessoanos “Deus ao mar o perigo e o abismo deu,/ mas  nele é que espelhou o céu” ).

   A sala tinha cadeiras, muitas cadeiras… não daquelas macias, onde os rabos encontram o conforto aveludado dos verdadeiros auditórios. Também não havia os desníveis ligeiros dos anfiteatros que deixam ver um bocadinho mais acima da cabeçorra que parece crescer à nossa frente.

       Sem bastidores nem cortinas, só a nudez imponente do palco se insinuava aos olhos dos que,  às turmas, iam entrando. As fileiras de cadeiras duras foram sendo preenchidas…uns mais à frente, aconchegados ao palco, outros mais diluídos na centralidade do auditório, outros  mais distanciados da boca de cena …enfim, como em todo o lado… (não podiam ficar todos ao colo, embora haja sempre alguns com mais colo do que outros… C’est la vie!).

   Inusitadamente, não havia vestígios de tecnologias, a não ser as que os alunos apertavam sofregamente entre os dedos, sabendo de antemão que as “storas” não tardariam a embirrar com aqueles “gadgets”, janelinhas luminosas que dão para o outro lado da rua da vida e que dão sentido à existência juvenil.

     Súbito, uma voz profunda e limpa insinuou-se entre o ainda ruidoso público…e o manto do sussurro poético foi abafando suavemente o auditório, afagando alguns ouvidos mais atentos e despertando outros, os que, pouco a pouco, se deixaram contagiar pela beleza das palavras, dos versos, dos poemas, das breves histórias. Entre nós e as palavras cresceu um corredor de emoções (até as andorinhas presas nas paredes altas esvoaçaram em liberdade).

      Foi bonita a festa da palavra, o encontro com a arte de dizer os versos dos outros!

   Foi bonito o silêncio de um auditório cheio de gente nova embalada pelo ritmo da poesia…

     Afinal, cada um dos alunos ali presentes é ainda um poema por dizer!

 

                                                                                                                                  Clara Faria